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Bauru de todos nós

Livro da Academia Bauruense de Letras em homenagem a Bauru no seu 124º aniversário

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a formar esta cidade nas primeiras décadas do século. Mais

recentemente vieram argentinos, bolivianos, chilenos, palestinos,

coreanos, mexicanos, siberianos, mongóis, tornando

Bauru um dos municípios mais cosmopolitas do interior

paulista, coisa que os moradores daqui quase nem percebem.

Talvez o sertanejo amigo de Graciliano não tenha

mentido ou inventado, apenas exagerado um pouco.

O meu primo Fernando Vasques proclama: “21, a

gente, moleque, tinha uma língua bem própria. Você sabe o

que é burca? O que é bolocados? O que intancar?” Era preciso

resgatar a língua da nossa infância, bem ligada a brincadeiras

que hoje nem existem mais, ou além disso, a uma

vida bem peculiar que não existe mais. Burca não era a

vestimenta exigida pelo Taliban, mas apenas síncope de búrica.

Aliás, “búrica” (ou burca e burquinha) é usada quase só

em Bauru. A bolinha de gude (nome mais conhecido) é chamada

também de baleba, bila, quilica, clica, fubeca, peca,

pinica, etc. Para um alagoano como Graciliano seria ximbra.

“Intancar” é simplesmente corruptela de entancar o riozinho

com pedras e folhagens para fazer um lago onde nadar. A

criança pronuncia diferente (vejam bem que é uma questão

linguística, sem nada a ver com erro), como o povo pronuncia

diferente, e é assim que evolui a língua. “Bolocados” parece

mais difícil. Certamente vem do verbo embolocar, pôr

a búrica na biroca (buraquinho cavado no chão de terra).

Fica mais difícil mesmo se lembrarmos a expressão completa:

“bolocados sem multa”. Seria preciso conhecer a regra

do jogo, aqui e naquela época. Outra mais difícil é “estressalanova”,

que o poeta Luiz Vitor Martinello me explicou:

“estrear sela nova”, brincadeira em que os moleques ficavam

de quatro e os outros pulavam por cima. Há um nome

posterior, em que a palavra “estre...” sofreu uma epêntese,

transformando-se em “estrela”, eliminando a ideia de estrear.

Eu conhecia por um nome mais feio: pular carniça. O

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