SCMedia News | Revista | Julho & Agosto 2020
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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90 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 91<br />
pela Grandvision Portugal, empresa que detém<br />
MultiOpticas, GrandOptical e Solaris. Após três<br />
anos na filial portuguesa, mudou-se para a sede<br />
da empresa nos Países Baixos onde permanece<br />
enquanto global supply & logistics manager.<br />
Para o profissional, a adaptação à nova<br />
realidade noutro país não foi fácil, “senti<br />
dificuldades, pois tudo era novo: o espaço físico,<br />
a equipa, a chefia, os colegas… e o facto de<br />
trabalhar e viver 24 horas sempre a falar uma<br />
língua que não a nativa, não ajuda em nada.<br />
Felizmente nos Países Baixos toda a gente fala<br />
inglês”, conta. Ainda por cima, no momento<br />
em que a integração já estava a tornar-se<br />
consolidada, quando já memorizava caras e<br />
nomes, teve de passar duas semanas na China<br />
e “quando voltei, parecia que tinha começado<br />
naquele dia e não semanas antes”, revela. No<br />
entanto, tudo acabou por melhorar. No final<br />
do primeiro mês já se sentia perfeitamente<br />
adaptado às pessoas, ainda que não com a<br />
confiança necessária nos processos, uma vez<br />
que tudo era explicado através de inúmeros<br />
acrónimos. “Lembro-me que saía de cada<br />
reunião com listas deles e que, posteriormente,<br />
tentava esclarecer, mas não estava a funcionar.<br />
Então decidi que iria passar a interromper e<br />
perguntar o que cada um queria dizer. Criavamse<br />
sempre momentos engraçados, quer fosse<br />
durante reuniões ou em conversas mais<br />
informais”, relembra.<br />
A nível pessoal revela que está a ser uma<br />
“experiência muito gratificante”. Considera aos<br />
Países Baixos um “país maravilhoso” onde tudo<br />
funciona como está definido. Conta que todos<br />
os dias sai de casa e reconhece onde é investido<br />
o dinheiro que paga de impostos, o que “dá<br />
tranquilidade e gera uma disponibilidade<br />
mental para que o cidadão se possa centrar<br />
em si, na família, amigos e trabalho. Ninguém<br />
precisa de se preocupar com os outros, pois<br />
todos cumprem com a sua parte e com o que<br />
deles se espera”.<br />
Um dos factores que tornou a experiência de<br />
construir uma carreira internacional na supply<br />
chain ainda mais positiva para João Neves, foi<br />
o facto de estar baseado na sede da empresa,<br />
uma vez que está em contacto diário com mais<br />
de 50 nacionalidades e tem a oportunidade de<br />
conhecer, todos os dias, algo mais sobre um<br />
país diferente, seja a nível cultural ou social.<br />
O convívio inter-cultural está ainda a ajudar o<br />
profissional a “perceber melhor as prioridades e<br />
objecções (muitas vezes, na prática, são apenas<br />
aspectos culturais) dos meus ‘clientes internos’,<br />
que são os colegas locais baseados nos mais de<br />
40 países de destino das nossas mercadorias”,<br />
refere. Ainda assim, têm existido alguns<br />
desafios nesta viagem. O maior, até agora, tem<br />
sido a escala e o impacto das decisões, “quando<br />
se está numa organização local, as decisões<br />
têm todas o seu impacto localmente, mas numa<br />
escala que pode ser sempre compensada pelos<br />
restantes países, caso não tenha sido a melhor<br />
decisão, quando se está numa função global<br />
a escala é ‘N’ vezes superior e o impacto será<br />
em ‘N’ países. Portanto se for uma má decisão,<br />
dificilmente poderá ser compensada”, explica.<br />
No entanto, o profissional caracteriza-se como<br />
uma pessoa que é sempre capaz de mais,<br />
portanto, é nas adversidades que consegue<br />
dar a volta por cima, tornando os desafios em<br />
conquistas.<br />
Em relação a Portugal, o global supply &<br />
logistics manager aponta várias diferenças,<br />
embora considere os portugueses como<br />
“excelentes profissionais”, independentemente<br />
do país onde estão inseridos. No entanto, no<br />
que diz respeito à capacidade de gestão dos<br />
assuntos diários e à capacidade de decisão,<br />
seja a que nível da organização for, já não<br />
tem a mesma opinião, “falta escala ao país,<br />
logo, torna-nos demasiado detalhistas em<br />
Portugal mesmo quando não devemos, menos<br />
pragmáticos e, por consequência, pouco<br />
eficientes ao alocar tempo às prioridades e<br />
ao exigir/apresentar resultados e soluções, o<br />
que depois gera desmotivação, ineficiências<br />
e demasiadas horas nos locais de trabalho”.<br />
No que toca à gestão do capital humano, nos<br />
Países Baixos, o responsável confessa que<br />
“tem sido uma agradável surpresa ver como os<br />
profissionais de qualquer ramo têm um enorme<br />
perceber melhor as<br />
prioridades e objecções<br />
(muitas vezes, na prática, são<br />
apenas aspectos culturais)<br />
dos meus ‘clientes internos’,<br />
que são os colegas locais<br />
baseados nos mais de 40<br />
países de destino das nossas<br />
mercadorias<br />
suporte por parte das suas entidades patronais<br />
e, por norma, existe um modelo meritocrático”.<br />
Quer seja em Portugal, nos Países Baixos ou<br />
em qualquer outra parte do mundo, João Neves<br />
deixa um conselho para quem pretende fazer<br />
da supply chain a sua profissão, que passa por<br />
se iniciarem, sempre que possível, numa área<br />
operacional, pois essas bases serão necessárias<br />
e, simultaneamente, serão o melhor suporte<br />
da carreira. “Sem experimentar e entender as<br />
operações, tudo se torna mais difícil”, remata.