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CRÓNICA
IDENTIFICAR O FASCISMO EM 20 PASSOS
V PAULO MARQUES
O
fascismo nasceu há
mais de cem anos: em
1919, em Milão, e o seu
pai é Benito Mussolini (1883
– 1945), Il Duce (o Guia), o
bárbaro e sanguinário ditador
italiano, fundador do Fasci
Italiani di Combattimento
(à letra, Feixes de Combate),
uma associação nacionalista
de veteranos da Primeira
Grande Guerra (1914 – 1918),
que viria a dar origem, dois
anos depois, ao Partido Nacional
Fascista, ou PNF.
De certa forma, o fascismo tanto nasceu
como reação à Revolução Bolchevique
de 1917 e às fortes lutas dos
trabalhadores e dos seus sindicatos,
como à sociedade liberal-democrática-capitalista
que emergiu após a Primeira
Guerra. Constituiu uma espécie
de terceira via entre o marxismo proletário
e o conservadorismo burguês,
que capitalizou todos os medos e todos
os descontentamentos, ocupando
um espaço deixado vago pelas outras
ideologias políticas.
O fascismo viria a marcar forte e desgraçadamente
a História da Europa
entre as duas guerras mundiais, emergindo
e ganhando força num contexto
de crise económica, social e política,
apresentando-se como uma solução
fácil, rápida, radical e salvífica que
seduziu milhões de europeus: italianos,
alemães, espanhóis, portugueses,
austríacos, romenos, húngaros,
jugoslavos... alastrando-se mais tarde,
entre os anos 50 e 80, a vários países
latino-americanos: Chile, Argentina e
Brasil.
Os fascismos são todos diferentes,
mas têm alguns aspetos em comum.
Aprenda a identificá-los:
1- Combate e perseguição ao comunismo,
ao socialismo, ao marxismo, à
luta de classes, à democracia, ao liberalismo,
ao capitalismo, ao igualitarismo
e ao hedonismo.
2- Liberdade individual submetida à
corporação, à coletividade, ao Estado.
3- Totalitarismo: Estado forte, controlador,
centralizado e hierarquizado,
não admitindo oposições, divisões
ou fracionamentos.
4- Luta por uma ditadura total: afastamento
dos políticos não-fascistas,
abolição dos partidos e formações
sindicais oposicionistas, imposição do
partido único.
5- Criação de um inimigo – interno
e/ou externo – que deve ser exterminado
para garantir a segurança e supremacia
de um grupo considerado
superior e/ou vítima injustiçada. Os
inimigos podem ser: comunistas, negros,
homossexuais, ciganos, judeus,
estrangeiros...
6- Primado absoluto da nação: nacionalismo
radical e exaltação da pátria
(por oposição ao internacionalismo).
7- Uso da censura (condenando, reprovando,
proibindo tudo o que critique
o regime) e da propaganda (difundindo
tudo o que enalteça o regime).
8- Vocação belicista: militarização
da sociedade, sempre preparada para
uma guerra iminente ou em curso.
9- Culto da personalidade: obediência
e culto ao chefe carismático, autoritário,
incontestável, providencial, salvador
da nação.
10- Elitismo: Favorecimento da elite
(ao mesmo tempo que a controla) em
prejuízo da população em geral: “manda
quem pode, obedece quem deve”,
dizia Salazar.
11- Controlo da Polícia e do Exército.
12- Polícia truculenta e bem estruturada,
responsável por conter indivíduos,
grupos e opiniões divergentes;
forte repressão policial; uso da violência,
da intimidação, da punição e
da tortura: “os fins justificam todos os
meios”; desrespeito dos mais elementares
direitos humanos; supressão das
liberdades democráticas.
13- Etnocentrismo: ideia da superioridade
de um grupo sobre outros –
discriminação e perseguição de todos
os que não forem considerados como
parte da comunidade.
14- Existência de milícias civis com
uma participação repressiva de defesa
do Estado.
15- Discurso fortemente emocional
em detrimento de uma argumentação
racional.
16- Preocupação excessiva com a ideia
de decadência moral e organizativa de
uma comunidade ou nação. Encarna
uma missão de regeneração nacional,
visando a criação de uma nova ordem
e de uma nova civilização.
17- Imperialismo: política de grandeza,
de expansão, de domínio, de potência
e de conquista.
18- Guardiões da ordem tradicional
e conservadora, baseado em idealismos
projetados no passado heróico e
mítico, ou no futuro, como destino
comum da nação: o que origina o racismo
e a xenofobia.
19- Exaltação da juventude, da força,
da virilidade, da estética.
20- Aproveitamento e manipulação
da religião vigente e maioritária.
18
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