You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
RETRATOS CONTADOS...
Nélson
Mateus
Foto: DR
Alice
Vieira
“Diário de uma avó e de um neto”
Lisboa, maio de 2021 (*)
Querida Avó,
Num piscar de olhos chegamos a
maio.
É verdade que temos vivido tempos
atípicos. Sentimos na pele a falta dos
cafés e restaurantes, de estarmos com
as pessoas que amamos, de fazermos
o que queremos e quando queremos.
Ninguém gosta de viver com a liberdade
condicionada, nem com medo.
Não estou a falar da falta de liberdade
no tempo da ditadura, nem do medo
da PIDE. Mas sim da falta de liberdade
que a pandemia causou, e do medo
do vírus. Têm havido muitos avanços
e recuos, mas em breve (esperamos
nós), tudo isto fará parte da história.
Mas de uma coisa não nos podemos
queixar. Com a vida agitada que levamos,
não temos dias entediados, sem
nada para fazer (como alguns se queixam).
“O Diário de uma avó e de um neto
em casa … confinados” foi uma ideia
excelente que tivemos. Aquilo que já
partilhávamos um com o outro, ao telefone,
passamos a partilhar com os
outros e tem sido um sucesso.
Com imensa gente a comentar, a partilhar,
a dar ideias …
Começámos por publicar os capítulos
no site, e redes sociais, Retratos Contados.
Depois fomos convidados para
escrever crónicas para o suplemento
do Jornal Sol, mais tarde para o site da
Revista Visão.
Agora, tivemos a honra de ser convidados
para escrevermos para o
“Lusitano de Zurique”. Que bom
que é partilhar com as comunidades
portuguesas histórias de Portugal, e
de personalidades portuguesas.
Nos últimos meses temos partilhado
com os nossos leitores Memórias
de Portugal. Histórias e estórias que
permitem aos mais velhos recordarem
a nossa identidade, e aos mais novos
saberem quem são (ou quem foram),
personalidades que contribuíram para
que hoje sejamos como somos e o que
somos.
“Este país não é para velhos!” É uma
frase que, infelizmente, ouvimos com
alguma frequência.
Em muitas famílias os velhos são um
fardo, e ninguém tem tempo, nem
interesse, em cuidar deles. Qual a importância
que os mas velhos têm na
sociedade? O que deve ser feito para
valorizar a ligação entre avós e netos?
Os mais novos não pensam que serão
os velhos do futuro e que podem vir a
ser o fardo de amanhã. Todos corremos
o risco de que um dia ninguém
queira cuidar de nós.
Vivemos numa sociedade envelhecida,
hipócrita, em que a maioria das pessoas
só pensa em si mesmo.
A sociedade está em plena mudança.
Os valores que existiam já não são os
mesmos.
Todos damos como garantida a água
que sai da torneira, a democracia…
mas será que vai ser sempre assim?
O tempo passa a correr. Há uns anos,
grande parte das famílias não tinha telefone
fixo em casa. Hoje os telemóveis
evoluíram tanto, qua dão para fazer
tudo e mais alguma coisa, inclusive
fazer chamadas …
22
Lusitano de Zurique - Maio 2021 | www.cldz.eu