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Revista Analytica Edição 112

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Microbiologia<br />

COMPLEXO BURKHOLDERIA CEPACIA<br />

Por Claudio Kiyoshi Hirai<br />

Introdução<br />

Nos anos de 2019 e 2020 tivemos a notícia de<br />

recall de alguns produtos farmacêuticos devido a<br />

uma possível contaminação microbiana.<br />

Os microrganismos responsáveis pela contaminação<br />

foram a Burkholderia cepacia e a Ralstonia<br />

pickettii sendo que este último microrganismo<br />

foi abordado no artigo anterior.<br />

Ambas as espécies compartilham certas características<br />

relevantes, desde a sua capacidade de<br />

proliferar em ambientes úmidos além de diversas<br />

fontes de água e pela capacidade de infectar pacientes<br />

imunocomprometidos.<br />

Anteriormente eram classificados como pertencentes<br />

ao gênero Pseudomonas, sendo que a B.<br />

cepacia era conhecida como Pseudomonas cepacia<br />

e a R. pickettii era conhecida como a Pseudomonas<br />

pickettii, sendo depois classificado como<br />

Burkholderia pickettii e agora classificado como<br />

Ralstonia pickettii.<br />

Este artigo analisa brevemente o complexo de<br />

Burkholderia cepacia e o risco que ele representa<br />

para pacientes vulneráveis, antes de discutir os<br />

métodos de teste e a qualificação do método.<br />

Na prática médica, esses microrganismos aparecem<br />

com maior frequência em pacientes com<br />

fibrose cística devido a capacidade destes microrganismos<br />

em formar biofilmes.<br />

O primeiro passo na formação do biofilme é a<br />

adesão das bactérias à uma superfície e ocorre<br />

de forma aleatória. Esta primeira adesão é reversível<br />

e é mantida por interações físico-químicas<br />

não específicas constituindo o alicerce<br />

para o crescimento do biofilme a segunda fase<br />

da adesão consiste na transição do estágio reversível<br />

para o irreversível as bactérias passam<br />

a secretar substâncias que serão responsáveis<br />

pela manutenção da adesão e da camada que<br />

envolve o biofilme. Nesta fase há o início da formação<br />

de microcolônias e do desenvolvimento<br />

da arquitetura do biofilme maduro. Os biofilmes<br />

maduros apresentam estrutura semelhante<br />

a cogumelos, que são envoltos por diversas<br />

substâncias, principalmente açúcares e rodeados<br />

por poros e canais de água que funcionam<br />

como um sistema de troca de nutrientes, oxigênio<br />

e metabólitos que precisam ser secretados<br />

para fora do biofilme A quinta e última fase da<br />

formação do biofilme ocorre quando o ambiente<br />

não é mais favorável à sua manutenção, e<br />

consiste no descolamento do biofilme maduro<br />

em forma de agregados celulares ou células<br />

livres Após desprendidas, as bactérias livres<br />

podem colonizar novos ambientes, reiniciando<br />

a formação de novos biofilmes.<br />

Os biofilmes não estão presentes somente nos<br />

dentes. Qualquer bactéria pode formar biofilme,<br />

inclusive dentro de nosso organismo. Eliminar<br />

colônias de biofilmes em seres humanos é quase<br />

impossível, porém eliminar os mesmos microrganismos<br />

em tubulação de água das indústrias<br />

farmacêuticas, cosméticas é mais factível.<br />

O F.D.A. recentemente alertou sobre a necessidade<br />

de se testar a presença deste microrganismo<br />

no ambiente, na água e nas matérias primas e<br />

produtos acabados devido a uma série de recalls<br />

envolvendo o complexo BCC.<br />

No centro dessa discussão está o novo método<br />

oficializado pela Farmacopeia Americana (USP 43)<br />

A Burokholderia cepacia, tem o potencial de crescer<br />

em conservantes e antissépticos, e crescer em<br />

produtos líquidos orais e tópicos.<br />

O capítulo tem o objetivo de estabelecer se uma<br />

matéria prima ou produto atende com uma especificação<br />

para a ausência do microrganismo,<br />

especialmente aqueles para uso em inalação, uso<br />

oral, mucosa oral, cutânea, ou nasal para os pacientes<br />

de alto risco.<br />

Conforme a proposição deve-se realizar testes de<br />

promoção de crescimento com as seguintes cepas;<br />

Burkholderia cepacia ATCC 25416, Burkholderia<br />

cenocepacia ATCC BAA-245, Burkholderia multivorans<br />

ATCC BAA-247, Staphylococcus aureus ATCC<br />

6538 e a Pseudomonas aeruginosa ATCC 9027.<br />

As amostras diluídas devem ser inoculadas em<br />

Caldo de Soja Caseína e a seleção e subcultura<br />

devem ser semeadas em Burkholderia cepacia<br />

seletive agar e incubados a 30-35°C durante 18<br />

a 72 horas. A presença da Burkholderia é evidenciada<br />

pelo crescimento de colônias verde a marro<br />

com halo amarelado ou de colônias brancas com<br />

uma zona rosa avermelhada no meio de cultura,<br />

que devem ser confirmados por meios bioquímicos.<br />

A ausência do microrganismo ´confirmada<br />

pelo não crescimento ou os testes confirmatórios<br />

d identificação forem negativos.<br />

Referências Bibliográficas:<br />

Farmacopeia dos Estados Unidos da América, USP 43 (60) MICRO-<br />

BIOLOGICAL EXAMINATION OF NONSTERILE PRODUCTS TESTS FOR<br />

BURKHOLDERIA CEPACIA COMPLEX<br />

24<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Analytica</strong> | Maio 2021<br />

Claudio Kiyoshi Hirai<br />

Farmacêutico bioquímico, diretor científico da BCQ consultoria e qualidade, membro da American Society of Microbiology e membro<br />

do CTT de microbiologia da Farmacopeia Brasileira.<br />

Telefone: 11 5539 6719 - E-mail: técnica@bcq.com.br

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