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Sapeca 35

Misto de sapo e perereca Nº 35 – Abril/2022 – Editor: Tonico Soares e-mail: ajaimesoares@hotmail.com

Misto de sapo e perereca
Nº 35 – Abril/2022 – Editor: Tonico Soares
e-mail: ajaimesoares@hotmail.com

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blioteca Nacional. Na época Haroldo, chamado pela equipe de Haroldinho, tinha

17 anos e era arte-finalista do semanário:

“A rotina na noite de fechamento de cada edição do jornal, quando fazíamos

a montagem das páginas que iriam ser impressas, era sempre a mesma. Ficávamos

até meia-noite nesse preparo, com um intervalo para comer alguma coisa

no boteco da Rua Marquês de Abrantes, esquina com a Rua Clarice Índio do

Brasil, sempre por volta de 22h. Naquela terça-feira, final de outubro de 1970, no

fechamento da edição nº 72, não foi diferente. Na redação só tinha o pessoal da

chamada cozinha do jornal. Fomos eu, arte-finalista; Alcino, secretário gráfico;

Waltinho, arte-finalista de anúncios; Calazans, motorista, para o lanche habitual

antes de finalizar as páginas e levá-las para a gráfica.

Na volta do boteco, o segurança, contratado após o atentado, abriu o portão

e, ao entrarmos, fomos rendidos. Eram seis homens armados com revólveres

e fuzis, à paisana. Estavam ali para levar todos os redatores. O Alcino, responsável

naquela hora, explicou que não tinha mais nenhum redator, coisa e tal.

– Cadê o Paulo Francis? Queremos ele primeiro – vociferou o que parecia

chefe do grupo, brandindo um revólver enorme.

– O Francis quase não vem aqui – respondeu o titubeante Alcino.

– Não interessa. Liga para ele vir – apontando o telefone –, inventa qualquer

coisa.

Pobre Alcino, ligar logo para quem? E liga e inventa, sob mira de revólver:

– Perdemos sua matéria, você pode trazer pra gente?

Francis soltou vários impropérios. Se quisessem, que fossem pegar. Sobrou

para quem? Haroldo. Dois deles pegaram o carro do jornal e foram comigo

para a Rua Barão da Torre, em Ipanema, no apartamento de dois quartos do

Francis. Subimos os três. Cada um deles se postou de cada lado da porta para não

serem vistos pelo olho mágico. Toquei a campainha. Abre a porta um Paulo

Francis transtornado, de pijama, já com o pau na mão para me dar uma mijada.

– Porra, Haroldinho, que merda é essa?

E os dois passam na minha frente:

– O senhor precisa vir conosco!

– Vocês podem esperar eu trocar de roupa e fazer uma malinha, por favor?

– disse, tranquilo, escolado por várias detenções anteriores.”

Destino: Vila Militar

Nos dias seguintes, as prisões continuaram: Ziraldo, o fotógrafo Paulo

Garcez, o cartunista Fortuna, José Grossi (diretor de publicidade), Flávio Rangel,

Luiz Carlos Maciel, Jaguar, Sérgio Cabral, Tarso de Castro. Todos levados para

um quartel do Exército na Vila Militar, Zona Oeste do Rio.

Haroldo e seus companheiros presos no fechamento do jornal foram libertados

depois de dois ou três dias. Os milicos queriam mesmo os cabeças. E que

cabeças incríveis eram aquelas! Grandes articulistas, cartunistas geniais. Só não

foram presos Millôr Fernandes e o cartunista Henfil, porque não foram encontrados

pela polícia. A secretária de redação Martha Alencar chegou a ser detida,

mas foi liberada no dia seguinte. Estava grávida. E foi graças ao esforço de Mar-

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