Sapeca n° 38
Misto de sapo e perereca Nº 38 – Agosto/2022 Editor: Tonico Soares e-mail: ajaimesoares@hotmail.com
Misto de sapo e perereca Nº 38 – Agosto/2022
Editor: Tonico Soares
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Depósito de Pães Nossa Senhora do Rosário
A distinta senhora é invocada até para fins pecuniários e tive um colega no
Rio cujo sonho era abrir uma Agência de Propaganda Nossa Senhora Aparecida.
Voltando ainda mais no tempo, meu pai, ao retornar de uma costumeira viagem a
Cataguases, contou que abriram cá um depósito de pães, para revenda do produto.
Pode ser o mesmo e mudou de ramo por terem aberto padarias no pedaço.
Outra senhora, esposa do Pelota, disse: “Eu cozinho pros fregueses como se
fosse pros meus filhos”. Pelota era outro bar da área, em que se comia melhor, abria
aos domingos e num deles um italiano de BH, com seu namorado, un bel ragazzo,
recitou-me versos de Dante. Fechou e mudou, e só sobrou o Depósito, onde marco
ponto. Minha cota, hoje, é de duas cervas e, no frio, “um bocado de gim” (evoé!
Chico Buarque). Mas houve tempo em que me sentava ao balcão do bar do Augusto,
na avenida, via o Jornal Nacional e só saía de madrugada. Aí, já chegava
calibrado ao bar do Kim. Como se sabe, dormi lá uma noite, juntando duas mesas,
no que fui ao banheiro e ele, mais chapado que eu, fechou a casa.
Acordei pelas dez da manhã, abri uma cerveja e comi um salgado. Resolvido
o problema do jejum, bati na porta e alguém ouviu, expliquei minha situação e ele
foi à casa do proprietário, que me libertou. Algumas vezes, Kim e eu ficávamos
biritando até o amanhecer, aí íamos rebater no português, ali perto. Eu estava recém-retornado
do Rio, onde também fechei e abri bares, me sentia bem, as cidades
eram menos violentas, qual o problema? Agora, a idade não ajuda, além de ter
ouvido um brontossauro dizer que “depois das dez é a lei do cão”.
Não mais italianos dantescos, o máximo, recentemente, foi um colombiano,
para quem falei que a luz que nos ilumina é de propriedade de uma conterrânea
dele (dona da Energisa) e, para ficar em sua língua, lembrei uma história contada
por Mário Lago, que Sapeca já contou. Rememoremos: disse o Lago que trabalhava
num teatro do Rio em que a atração maior era uma rumbeira e um dia Pepe, o
marido dela, pediu aumento do salário, justificando: “Hay que mejorar el sueldo,
porque el público viene al teatro solamente por el culo de mi mujer”.
O colombiano riu às bandeiras despregadas e foi caçar mulher, no celular.
Também no DP, dia desses quem riu fui eu, quando o garçom abraçou e deslizou
suavemente a mão até a região glútea de um rapaz delicado, e este falou: “Entra na
fila, porque a procura tá maior do que a oferta”. E ali, uma já com seus trinta e
reticências chegou-se à mesa de um cara, pediu meia cerveja e informou: “Agora
eu vou trabalhar na zona, lá, pelo menos, eu tenho a freguesia garantida”.
Mulher de programa, na Vila, é o que não falta. Idem, educação: sempre que
alguém precisa de uma cadeira para ir bebericar em outra mesa, e na minha tiver
uma desocupada, pede licença, o que Roberta Close não fez, no Rio. Belíssima até
de biquíni, como a vi outra vez, na praia, ainda pré-cirurgia, o que é complicado:
peito e piroca, na mesma pessoa, não combinam, mas há quem goste e um pai de
família confessou que ser penetrado por um pedaço de carne, com dois outros batendo
nas costas é um prazer inenarrável. Confere, pois dizem que a preferência
por travestis é majoritariamente exercida por homens mal casados.
É o que digo, e Tobias Mendes faria coro: bar é a maior invenção da humanidade,
espaço democrático, sem arengas domésticas, feito praia. E vi numa delas
um tico do monte de Vênus de uma celebridade: Isabel do vôlei. “O que é bonito é
pra ser mostrado”, diria uma garota sapeca, também do Rio. Assim seja.