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Revista Dr Plinio 297

Dezembro de 2022

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Arquivo <strong>Revista</strong><br />

ção é sensível ao estado em que se encontra<br />

a bobina naquele momento.<br />

O espírito humano se volta sucessivamente<br />

para coisas diferentes, por<br />

uma espécie de mecanismo que vai de<br />

pai para filho e que não é mecanismo<br />

natural, não são as coisas culturais que<br />

ele recebeu. É algo que está por debaixo<br />

da cultura. São aspirações profundíssimas<br />

do espírito humano, que não<br />

fazem senão exprimir algo que se encontra<br />

mais no fundo; é um anelo processivo<br />

que o homem tem do Céu, sob<br />

os modos pelos quais ele o concebe<br />

sem saber que é o Paraíso.<br />

Impulso propulsor<br />

da História<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1983<br />

Padre Francisco Suárez, S.J. - Museu da<br />

Universidade de Valladolid, Espanha<br />

Dou um exemplo muito pessoal.<br />

Por mais que eu tivesse união de alma<br />

com minha mãe, notava que algo<br />

em mim tinha avançado por causa da<br />

diferença dos tempos, os quais não fizeram<br />

senão decair... Mas no que eu<br />

retive de Dona Lucilia, andei mais do<br />

que ela, simplesmente por ser seu filho.<br />

Não me refiro a virtudes. O correr<br />

da bobina, com o tempo, vai fazendo<br />

com que dentro dos homens,<br />

por mais que decaiam, haja algo acessível<br />

a um chamado mais alto.<br />

Isto é contínuo de geração para geração,<br />

numa progressão. Como a sucessão<br />

harmônica entre o<br />

Antigo e o Novo Testamento,<br />

assim também estaria a<br />

sucessão deste apelo, desta<br />

tendência que Deus pôs no<br />

fundo dos homens e que caminha<br />

para o apogeu. É um<br />

caminhar necessário, não<br />

depende da vontade do homem,<br />

porque se dependesse<br />

ele faria besteira. É Deus<br />

que vai lhe apresentando<br />

sucessivamente as coisas.<br />

Por vezes, isso se passa<br />

até em relação aos monumentos.<br />

Por exemplo, um<br />

veneziano dos antigos tempos,<br />

se fosse retratar Veneza<br />

– digamos, Canaletto 1 –, não<br />

seria capaz de pegar os aspectos<br />

da cidade que determinados<br />

fotógrafos contemporâneos<br />

colheram. Porque<br />

nestes o espírito humano já<br />

deu uns tantos “giros” – estou<br />

imaginando a bobina de uma máquina<br />

de escrever –, que fizeram com<br />

que fossem capazes de captar ali algo<br />

que os antigos não conseguiram.<br />

Pensei nisso ao ver um postal comum,<br />

mas bonito, do Louvre. O fotógrafo<br />

pôs ali alguma coisa que o monumento,<br />

de si, não tem, mas a foto<br />

pôde mostrar e que corresponde à aspiração<br />

existente na geração do fotógrafo<br />

para algo de belo, o qual ainda<br />

não estava presente na concepção de<br />

quem construiu o Louvre.<br />

Considerando o mesmo fenômeno<br />

por outro aspecto, podemos afirmar<br />

que a era dos príncipes terminou<br />

com a Revolução Francesa, mas o mito<br />

feito a respeito do príncipe depois<br />

dela é mais alto do que o príncipe era<br />

antes. E, apesar de tudo, representou<br />

uma exigência do espírito humano de<br />

um tipo de principado que a humanidade<br />

ainda não tinha concebido no<br />

tempo da Revolução Francesa. Assim,<br />

para uma pessoa do Ancien Régime<br />

2 um príncipe e uma princesa constituíam<br />

uma figura exquise 3 , mas não<br />

eram os personagens de conto de fadas<br />

que hoje significam para nós.<br />

Também a infalibilidade pontifícia.<br />

Trata-se de um carisma instituído por<br />

Nosso Senhor Jesus Cristo em favor<br />

do Papado, nos termos em que a Igreja<br />

o define. Entretanto, não há dúvida<br />

de que, naquele oceano de imundície<br />

e incredulidade do século XIX,<br />

11<br />

Flávio Lourenço

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