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Arquivo <strong>Revista</strong><br />
ção é sensível ao estado em que se encontra<br />
a bobina naquele momento.<br />
O espírito humano se volta sucessivamente<br />
para coisas diferentes, por<br />
uma espécie de mecanismo que vai de<br />
pai para filho e que não é mecanismo<br />
natural, não são as coisas culturais que<br />
ele recebeu. É algo que está por debaixo<br />
da cultura. São aspirações profundíssimas<br />
do espírito humano, que não<br />
fazem senão exprimir algo que se encontra<br />
mais no fundo; é um anelo processivo<br />
que o homem tem do Céu, sob<br />
os modos pelos quais ele o concebe<br />
sem saber que é o Paraíso.<br />
Impulso propulsor<br />
da História<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1983<br />
Padre Francisco Suárez, S.J. - Museu da<br />
Universidade de Valladolid, Espanha<br />
Dou um exemplo muito pessoal.<br />
Por mais que eu tivesse união de alma<br />
com minha mãe, notava que algo<br />
em mim tinha avançado por causa da<br />
diferença dos tempos, os quais não fizeram<br />
senão decair... Mas no que eu<br />
retive de Dona Lucilia, andei mais do<br />
que ela, simplesmente por ser seu filho.<br />
Não me refiro a virtudes. O correr<br />
da bobina, com o tempo, vai fazendo<br />
com que dentro dos homens,<br />
por mais que decaiam, haja algo acessível<br />
a um chamado mais alto.<br />
Isto é contínuo de geração para geração,<br />
numa progressão. Como a sucessão<br />
harmônica entre o<br />
Antigo e o Novo Testamento,<br />
assim também estaria a<br />
sucessão deste apelo, desta<br />
tendência que Deus pôs no<br />
fundo dos homens e que caminha<br />
para o apogeu. É um<br />
caminhar necessário, não<br />
depende da vontade do homem,<br />
porque se dependesse<br />
ele faria besteira. É Deus<br />
que vai lhe apresentando<br />
sucessivamente as coisas.<br />
Por vezes, isso se passa<br />
até em relação aos monumentos.<br />
Por exemplo, um<br />
veneziano dos antigos tempos,<br />
se fosse retratar Veneza<br />
– digamos, Canaletto 1 –, não<br />
seria capaz de pegar os aspectos<br />
da cidade que determinados<br />
fotógrafos contemporâneos<br />
colheram. Porque<br />
nestes o espírito humano já<br />
deu uns tantos “giros” – estou<br />
imaginando a bobina de uma máquina<br />
de escrever –, que fizeram com<br />
que fossem capazes de captar ali algo<br />
que os antigos não conseguiram.<br />
Pensei nisso ao ver um postal comum,<br />
mas bonito, do Louvre. O fotógrafo<br />
pôs ali alguma coisa que o monumento,<br />
de si, não tem, mas a foto<br />
pôde mostrar e que corresponde à aspiração<br />
existente na geração do fotógrafo<br />
para algo de belo, o qual ainda<br />
não estava presente na concepção de<br />
quem construiu o Louvre.<br />
Considerando o mesmo fenômeno<br />
por outro aspecto, podemos afirmar<br />
que a era dos príncipes terminou<br />
com a Revolução Francesa, mas o mito<br />
feito a respeito do príncipe depois<br />
dela é mais alto do que o príncipe era<br />
antes. E, apesar de tudo, representou<br />
uma exigência do espírito humano de<br />
um tipo de principado que a humanidade<br />
ainda não tinha concebido no<br />
tempo da Revolução Francesa. Assim,<br />
para uma pessoa do Ancien Régime<br />
2 um príncipe e uma princesa constituíam<br />
uma figura exquise 3 , mas não<br />
eram os personagens de conto de fadas<br />
que hoje significam para nós.<br />
Também a infalibilidade pontifícia.<br />
Trata-se de um carisma instituído por<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo em favor<br />
do Papado, nos termos em que a Igreja<br />
o define. Entretanto, não há dúvida<br />
de que, naquele oceano de imundície<br />
e incredulidade do século XIX,<br />
11<br />
Flávio Lourenço