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Revista Dr Plinio 297

Dezembro de 2022

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Nas primeiras etapas da vida, o senso da perfeição,<br />

presente em toda criatura humana, faz com que<br />

a pessoa perceba muito mais o perfeito do que o<br />

imperfeito e dá a ela uma sensação da vida como se fosse<br />

uma luva maravilhosa, forrada de arminho, na qual ela vai<br />

pondo a mão e que se torna cada vez mais aconchegante.<br />

Nessa experiência, o homem em parte se explicita a si<br />

próprio e em parte explica essa sensação em função de si.<br />

É assim que a noção de perfeição vai se formando na alma.<br />

Viver é tender para a perfeição<br />

Entende-se bem o que vem a ser essa tendência à perfeição<br />

quando se observa as movimentações da alma. A alma<br />

tende para a lógica, para a verdade. Se ela fosse seguir<br />

o seu movimento próprio, produziria o raciocínio perfeito.<br />

Nisso está uma pista para se compreender o que é o desejo<br />

de perfeição da alma acompanhado pelos movimentos<br />

gerais dos instintos, sobretudo no homem antes do pecado<br />

original. Nele, todos os instintos se moveriam para as<br />

coisas perfeitas que a alma fosse conhecendo, fornecendo<br />

elementos para a alma elaborar a figura verdadeira da realidade<br />

material e a destilação de dentro disso do que seria<br />

a perfeição desta e também da realidade espiritual.<br />

Propriamente, viver é tender para a perfeição.<br />

O voo direto para o mais perfeito<br />

Nesse senso, exatamente, entram colaborando de vários<br />

modos os instintos, mas a serviço de um voo que é<br />

mais um instinto da alma do que do corpo, um voo direto<br />

para a perfeição.<br />

O aparecimento do gótico confirma isso. Só a pessoa<br />

que tem senso do maravilhoso é realmente prática. Tenho<br />

a impressão de que necessariamente, ainda que por<br />

contingências, a esmo, devem ter surgido coisas góticas<br />

séculos antes da Idade Média.<br />

Não houve um gênio que, encontrando o gótico, dissesse:<br />

“É o que eu queria!” E que transformou, por<br />

exemplo, no primeiro arco gótico a porta dos fundos de<br />

uma cozinha medieval... Mas o homem que tenha descoberto<br />

o primeiro traço do gótico, ele, para mim, vale<br />

mais do que Cristóvão Colombo.<br />

Há várias igrejas construídas num período de transição.<br />

E os puristas torcem o nariz: “Horrível, está misturado<br />

o gótico e o românico”. É uma glória! “Você não<br />

compreendeu esse nascimento do gótico por cima do arco<br />

românico, que faz com que você, em vez de encontrar<br />

contradição, procure analogia? É como quem vê um pai<br />

e um filho e procura ver no que eles se parecem.” É uma<br />

analogia da graça sobre a natureza.<br />

Então houve e haverá modestos artistas desconhecidos,<br />

exercendo o papel, entretanto, de profetas neste e<br />

naquele ponto e que fizeram uma verdadeira maravilha.<br />

Profetas do belo: homens capazes de realizar<br />

os anseios de “pulchrum” da multidão<br />

Como entra o sobrenatural no estilo gótico?<br />

A graça, que nos dá acesso ao sobrenatural, é uma participação<br />

criada na vida de Deus. Essa participação ajuda a tendência<br />

do homem à perfeição, fazendo pressentir, por algu-<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

Eduardo Elúa/Eric Pouhier/Diliff/Beckstet (CC3.0)<br />

1) Fachada da Catedral de Burgos, Espanha. 2) Nave Central da Catedral de Notre-Dame, Reims, França.<br />

3) Catedral de Notre-Dame, Laon, França. 4) Interior da Abadia de Saint-Denis, Paris.<br />

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