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Revista Dr Plinio 297

Dezembro de 2022

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Dona Lucilia<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> no Cemitério da Consolação em 1990<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

enorme na Providência, a qual marcava<br />

a vida dela e explicava a suavidade,<br />

dando-lhe o suporte racional.<br />

Porque, por mais que essa seja uma<br />

bela virtude, só o é porque é razoável.<br />

Ora, qual era o fundamento da<br />

atitude de mamãe perante as coisas?<br />

Deveria haver um fundamento<br />

razoável. Se não tivesse, não seria<br />

católico, nem seria virtude e eu não<br />

o quereria. Se alguém dissesse simplesmente:<br />

“Esse sentimento é belo,<br />

portanto, é razoável”, eu não poderia<br />

ser um bicho-preguiça e, achando<br />

isso belo, deixar de procurar o verum<br />

que existe por detrás. Pelo contrário,<br />

o verum deve ser encontrado.<br />

Algo me diz que assim se deve ser<br />

e que nós devemos ser infatigáveis<br />

nesse esforço: a razão demonstrou,<br />

logo procure o pulchrum; o pulchrum<br />

demonstrou, então procure a razão.<br />

E dessa “ogivalidade” resulta o bem-<br />

-estar e a missão cumprida da alma.<br />

Serenidade em todas<br />

as circunstâncias<br />

Naturalmente, eu procurava fazer<br />

isto a propósito dela e encontrava<br />

sempre o seguinte: na ponta dos<br />

horizontes mais aflitivos, um ato de<br />

confiança. No extremo das preocupações<br />

podiam aflorar mil coisas,<br />

mas, depois, de repente, no término<br />

mais pungente, estava a serenidade.<br />

O que explicava a paciência e a bondade<br />

dela.<br />

Ela olhava para esse fim de horizonte<br />

como olhava o Sol cair sobre<br />

a Praça Buenos Aires ou na Rua<br />

Alagoas, entre o arvoredo da alameda<br />

ainda não poluída pelos horrores<br />

que se espargiram depois. Às vezes<br />

ela comentava como estava bonito.<br />

Ela tinha a mesma posição de alma<br />

e o mesmo modo de olhar, a mesma<br />

serenidade. Por quê? A pergunta vai<br />

até lá.<br />

Eu me lembro dela, já bem idosa,<br />

com um incômodo digestivo consideravelmente<br />

mais sério do que o<br />

comum. Mandei chamar o médico.<br />

Para uma pessoa daquela idade a visita<br />

de um médico pode significar<br />

uma sentença de vida ou de morte.<br />

Mas ela não tinha bem ideia até que<br />

ponto a morte pendia sobre ela.<br />

Quando o médico foi examiná-la,<br />

pouco antes de ela entrar na sala, disse-me:<br />

“Meu filho, se você soubesse<br />

que horror sua mãe tem a câncer!”<br />

Aí me dei conta de que ela passou<br />

a vida inteira com essas perturbações<br />

digestivas e, tendo essa espécie<br />

de horror a câncer, ela poderia<br />

ter pensado várias vezes nessa hipótese.<br />

Habituado desde pequeno a vê-<br />

-la com esses incômodos, nunca me<br />

passou pela cabeça que ela viesse a<br />

ter essa doença. Quando eu era pequeno<br />

não se falava em câncer, esse<br />

mal foi um fruto da modernidade,<br />

não a doença enquanto tal, mas<br />

a disseminação.<br />

E pensei comigo: “De repente é.<br />

E a morte de câncer é inexorável e<br />

muito dolorosa.” Após o exame, o<br />

médico foi para o salão conversar<br />

com minha irmã, minha sobrinha e<br />

comigo. Durante a exposição, chamei<br />

a atenção dele de propósito, cortei<br />

a explicação e lhe perguntei:<br />

— Doutor, será câncer?<br />

Ele teve um pequeno sobressalto<br />

e deu a seguinte resposta:<br />

— Por enquanto não se tem o direito<br />

de pensar nisso.<br />

Não tinham aparecido os sintomas<br />

próprios para definir se era ou<br />

não câncer. Mas, se compreende,<br />

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