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Dona Lucilia<br />
Flávio Lourenço<br />
Samuel Holanda<br />
Na ponta dos horizontes mais aflitivos, Dona<br />
Lucilia mantinha sempre a mesma serenidade,<br />
provinda de uma confiança na Providência. Era<br />
uma espécie de promessa de Deus de que, na dor,<br />
o lumen com o qual ela acompanhava o vai-e-vem<br />
dos acontecimentos não a abandonaria jamais.<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
T<br />
ratando com mamãe, várias<br />
vezes me pus esta pergunta:<br />
Qual a proporção entre<br />
a graça e a natureza no conjunto<br />
da personalidade dela? É razoável<br />
colocar essa questão, porque<br />
quando alguém corresponde muito<br />
à graça, esta última toma ares<br />
de segunda natureza e tem-se a<br />
impressão de que a pessoa é assim<br />
desde o mais profundo do ser. Em<br />
certo sentido, é verdade.<br />
Mamãe assumiu<br />
a graça e deixou-se<br />
assumir por ela<br />
A memória que me ficou na<br />
retina sobre mamãe é a de uma<br />
pessoa que, por mais fundo que<br />
se olhasse, não se percebia ou-<br />
tra coisa a não ser o trabalho da graça<br />
na alma dela.<br />
Eu sei, pela fé que, sendo ela concebida<br />
no pecado original, deveria<br />
ter um lado oposto ao da graça. Porém,<br />
de tal maneira ela tinha assumido<br />
a graça e se deixado assumir por<br />
ela que pareciam ser uma só coisa.<br />
Se não fosse o convívio contínuo<br />
e a minha preocupação de fazer uma<br />
análise imparcial, não me deixando<br />
levar pelo afeto de filho, essa pergunta,<br />
de querer saber qual seria o<br />
lado do pecado original na alma dela,<br />
não pareceria justa nem reverente.<br />
Porém, essa indagação eu a pus<br />
de outro modo para mim mesmo: “O<br />
que é graça, o que é natureza?”<br />
Por exemplo, a suavidade de mamãe,<br />
tão e tão notável, tão comunicativa,<br />
que marcava tanto os ambien-