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Sempre fui diferente do pessoal lá de casa. Não sei bem explicar o porquê. Desde
cedo me chamam de louco, e devo concordar que eles têm suas razões. Talvez o que
me difere seja a sede de viver, que eles não possuem, além do comodismo pelo qual
são tomados, e que não faz parte de mim.
Eu tenho uma insaciável sede de vida, um desejo inenarrável por vida nova e por
conhecer pessoas que, pela força da espontaneidade, possam se tornar minhas
amigas de infância instantaneamente.
Minha família é avessa a mudanças, enquanto eu não poderia ser mais adepto
delas. Tenho fascínio de morar uma hora em cada lugar, viajar quase todos os fins de
semana, comer cachorro-quente num bairro desconhecido, cantar sozinho no ônibus.
Tudo isso apenas para mostrar pra mim mesmo que consigo cagar para a opinião
alheia. Chego a tremer quando reconheço que estou criando raízes, entusiasmandome
com a briga dos vizinhos ou percebendo que o sofá está virando meu hobby.
Embora tudo me leve a crer na hipótese da minha alma ser cigana, ainda me faz
falta ter a companhia de alguém com um espírito mochileiro, entende? Sei lá, uma
pessoa para sentar comigo no assoalho do quarto, pegar um bloquinho de notas e
começar a listar os lugares que precisamos conhecer, criando estratégias para
minimizar o tempo até conseguirmos chegar lá. Alguém que faça competição para
ver quem leva menos coisas na mochila ou se ofereça, ora sim ora não, para pedir
informação na rua, zoando meu nariz vermelho de sol, desfilando comigo no
corredor de um hostel com a marca de regata que herdamos de um dia incrivelmente
bem aproveitado.
Namore alguém que viaje. Porque será esse alguém que te levará a lugares antes
inimagináveis pela sua mente, pagando a promessa que fez a si mesma de retornar
àquele local quando encontrasse um ser tão louco quanto ele e que se encantaria da
mesma forma.