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Você já se sentiu como se sua alma estivesse chorando? Como se algo ali dentro,
além da carne, estivesse triste. Como alguém que chora por noites em seu quarto
sem ninguém escutar, quase mudo, quase gritando para dentro.
Você nunca teve aquela vontade enorme de entrar no quarto com toda a convicção
do mundo, abrir o armário num ímpeto e pegar as primeiras roupas que vê pela
frente? Como se os problemas se autorresolvessem com a fuga, como se as soluções
morassem num lugar distante.
Nunca passou pela sua cabeça esquecer a identidade na mesa, os amores na
indiferença e as contas no quintal de alguém? Só para viver a recompensa do
anonimato, recomeçar do zero, sem nada vencendo amanhã.
Você nunca ficou em frente ao espelho, nadando nos próprios pensamentos,
tentando achar lugar para todos aqueles amores que não deram certo, para todas
aquelas promessas falsas que lhe fizeram e para todas as amizades que nunca foram
verdadeiras? Como se o reflexo soubesse onde guardá-los, podendo te ensinar um
caminho onde não são permitidas bagagens cheias de pó.
Nunca te deu um acesso de loucura de pensar que sua vida até agora não valeu de
nada, que você nunca encontrou aquilo que busca, que são poucos os que foram
muito pra você?
Vou confessar que tenho medo.
Não da morte do corpo, mas dos sonhos.
Medo de morrer com os olhos vivos numa alma presa.
Medo de me enxergar sozinha no final da estrada.
Medo de me tornar fria demais.
Medo de me perder na correria e não me encontrar mais em meio ao sossego.
Nem todo dia faz sol, mas também nenhum temporal dura a madrugada inteira.
Como já dizia o Chico Xavier: “Isso também passa”.