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cachorra) latiu e, antes mesmo de conseguirmos falar a primeira frase, já estávamos
tentando respirar um pela boca do outro. Ou melhor, tentando nos engolir.
Sinceramente, eu não chamaria aquilo de beijo.
Murilo foi o primeiro cara que me mostrou o que é tesão, a vontade absurda de
possuir alguém por meio do beijo, do corpo…
Subimos até o quarto, joguei dois colchões de solteiro no chão, armando uma
cama de casal provisória, e lá estava um dos lugares mais interessantes que tenho na
mente. Eu gemia baixo e gritava por dentro. Sentia o calor do corpo dele junto do
meu sem esforço, sem exagero. O corpo de Murilo era totalmente diferente do tipo
de corpo com que eu estava acostumado, era lindo, ruivo, forte e tinha uma bunda
tão gostosa que me fazia ficar de pau duro só de pensar.
Nunca comi alguém com tanta maestria. Nunca fodi com alguém tão majestoso.
Lembro-me de raramente ter encontrado tamanha afinidade.
No dia seguinte, Murilo acordou, eu acordei. Ele foi pra casa dele e, algumas
horas depois, já estávamos juntos de novo em algum lugar da cidade. E assim
aconteceu por algumas semanas. Era o tipo de relação perfeita, grudenta, mas ao
mesmo tempo legal. Até havia uma espécie de competição entre nós de quem
mandava mensagem falando que estava com saudade primeiro. Nós estávamos indo
bem. Gostávamos das mesmas coisas, ríamos dos mesmos memes, tínhamos sonhos
parecidos e um conhecia a boca do outro como ninguém. Chegava a ser
insuportável. Lembro que nossos amigos nos convidavam para jantar ou para alguma
festa, mas não dava meia hora e lá estávamos nos pegando tão forte que era quase
um sexo ao vivo.
Agora, antes que você me pergunte se eu me envergonho, eu já respondo que tudo
o que sinto é saudade.
Aí, como sempre existe alguém para cagar com tudo, o ex, babaquinha riquinho
da cidade, descobriu que estávamos nos amassando em colchões conhecidos e
resolveu ligar para ele dizendo que o queria de volta. Eu ainda o levei até a porta do
apartamento do cara, mesmo sabendo que aquela seria a última vez que nos
veríamos. E foi. Infelizmente, eu não tinha a menor chance. Eles namoraram por
anos, viajaram juntos, construíram uma história a ponto de eu entrar para a posição
do incerto. Apenas um amor de verão.
Murilo simplesmente não quis mais me ver. Assim como todos os outros, foi
embora sem me explicar nada – apesar de que não era muito necessário – e começou
a me ignorar para se livrar do peso da sinceridade.
Na véspera de Ano-Novo, fui pegar uma camiseta que eu adorava e que havia
ficado com ele. Eu fiquei sem ação quando ele ficou na minha frente. Apenas peguei
a roupa, senti seu perfume e o ouvi falando, ao fundo: “Cuide-se, Gui”. Confesso
que não foi uma virada de ano muito boa, pois eu já estava ansioso por dias
melhores.
Murilo foi o cara que me ensinou que tamanho não é documento; que intensidade