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A que horas você sai do trabalho? Eu estava pensando em ir até aí buscar você, dar
uma passadinha rápida na padaria e pegar alguns bolinhos de queijo para irmos
comendo no caminho, enquanto você ajeita o blusão enfiando um braço de cada vez
para se proteger do frio. Com passos largos para não perdermos o ônibus, vou te
contando como foi minha semana, revezando minhas loucuras com seu discurso
pronto de que não aguenta mais encher o cu do seu chefe capitalista e egocêntrico de
dinheiro.
Aí, no meio das nossas especulações mundanas e daquele barulho das ruas que
aumenta depois das seis, nós nos damos conta de que o nosso tempo é incerto e de
que relembrar os sonhos é uma forma interessante de pensarmos numa ponte até
eles. Eu falo de uma casa na praia, mas você insiste numa casa no campo. Fala que é
impossível criar uma vaca a alguns metros do mar e eu respondo dizendo que
quando há amor na casa, pouco importa o endereço.
Apressados pelo relógio, fico propositalmente um pouco atrás vendo seu sorriso
atravessar a rua. Aos poucos, tudo vai ficando em silêncio e eu começo a sentir
aquela felicidadezinha no peito, com a sensação de fim de tarde num dia de verão,
mesmo que estejamos em pleno inverno gaúcho.
Sortudos e juntos, um ao lado do outro no ônibus, a caminho da sua casa, eu vejo
casais pelo vidro e, pela primeira vez, não me sinto perdido. Vou embora com a
sensação de ter encontrado em você um amor que não veio com prazo de validade.