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Bem que eu queria, garoto! Mas é mais fácil o Tiago Iorc cantar na minha janela do
que você aparecer na minha porta. São quantos quilômetros, mesmo? Nem contei
para não me assustar. Tenho uma mania ridícula de exagerar no eufemismo e
esquecer que nem tudo dá pra ser suavizado. Às vezes, acho melhor manter a cabeça
nos sonhos, assim não me chateio tanto com a minha realidade, que ainda está muito
longe de ser cool.
Eu tinha até feito planos pra gente. Tudo bonitinho, muito bem arquitetado na
minha cabeça. Plaquinha no aeroporto, reserva numa pousada bacana, making love
por horas e dois idiotas, mais tarde, se escondendo do relógio para não serem pegos
na blitz do tempo. Bem que eu queria, garoto! Bem que eu queria ver a gente
perdido por aí, nem que fosse para inflar o ego com umas selfies maneiras ou para
andar naquelas bicicletas laranjas à noite. Mas, olha, já calculei aqui: isso não tem a
menor chance de dar certo.
Tenho dois reais para passar o mês, e amanhã ainda preciso comprar uma coxinha.
Amor a distância é pra quem tem paciência, pra quem gosta de parcelar as coisas em
doze vezes e não se importa de alimentar a relação com longas conversas pela
internet. Eu? Bom, eu nem tenho carnê. Pareço forte, mas desmorono fácil. Choro
feito criança e, vez ou outra, vou acabar precisando de colo.
Existem tantos mercados legais por aqui, tantas padarias em que poderíamos ter
nos esbarrado… Por que foi acontecer com você, que mora depois do oceano, lá na
pequepê? Ainda que sejamos do mundo e que sejamos bons de conversa, eu não sei
amar parcelado, não sei me alimentar só de conversas fragmentadas e de relatos,
abrindo mão da vivência diária. Precisamos de uma ponte para desligar o modem.
Bem que eu queria, garoto. Bem que eu queria… Mas meu amor só funciona em
modo off-line.