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Bem, você sabe, nós não demos certo. Mas, ainda assim, tenho curiosidade de saber
como você anda se saindo sem mim.
Ainda mentindo que o cheiro de cigarro dentro do carro não é seu? E aquela
mania de administrador neurótico colecionador de notas fiscais, ainda existe?
Eu conheci pessoas bem bacanas depois que nos separamos. E isso serviu bastante
para tirar aquela ideia estúpida da cabeça de que eu nunca encontraria alguém à
minha altura. Erro meu.
Nas primeiras três semanas eu pensei que morreria, juro. Passava noites em claro,
aflito na ansiedade de saber se você já estava puteando antes de mim. Você sabe
como as coisas funcionam. Um sempre espera pelo outro antes de dar o grito de
liberdade, no interesse de colocar a culpa na autonomia.
Nos primeiros três meses falei seu nome à beça. Eu aproveitava qualquer brecha
para mencionar nossa relação, embora me sentisse culpado depois.
Nos próximos seis meses, eu via o modelo do seu carro e lembrava da gente.
Pedia um Circulu’s X-Bebum e lembrava da gente. Passava perto de alguém com
seu perfume e me esforçava para não lembrar da gente.
Depois de um ano eu me mudei, não só de casa, mas também de conceitos.
Dediquei um sábado inteiro, antes de ir embora, para avaliar se realmente o que
tivemos foi um namoro. E concluí que sim. Mesmo naquela podridão toda, mesmo
em meio àquele lixo tóxico e às inseguranças que arrancavam nossos cabelos.
Agora eu já não sinto mais a sua falta e nem te quero mais de volta, se existisse
essa possibilidade. No entanto, depois de tentar me policiar para não pensar em você
todas as vezes que o presente dava oportunidade, resolvi parar. Cansei de brigar
comigo mesma, colocando-me de castigo, no auge da ignorância por achar que um
dia te esqueceria. Aprendi com o tempo que superar não é sinônimo de esquecer,
bater a cabeça e perder a memória de uma vez por todas. Superar vai muito além de
tudo o que eu pensei que iria. Superar a ausência de alguém tem a ver com