Cultura de Bancada, 17º Número
Cultura de Bancada, 18º número, lançado a 12 de junho de 2023
Cultura de Bancada, 18º número, lançado a 12 de junho de 2023
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na escola ou não gastei dinheiro em roupa,
calçado ou futilidades para poder pagar
deslocações? O retorno foi enriquecedor.
Atrás do meu clube, viajei e viajo por todo
Portugal, conhecendo muitos novos lugares.
Hoje tenho a possibilidade e privilégio
de viajar com alguma regularidade para
o estrangeiro, aproveitando períodos de
férias para conhecer, pelo menos, o campo
ou estádio “x” ou até mesmo de viajar para
ver o jogo “y”, com o foco de interesse nos
grupos de apoio presentes. O desempenho
profissional também foi afectado pela vida
ultra, pois uma vez que se vive em torno do
clube, muitas vezes prejudiquei-me, com
faltas injustificadas, atestados médicos, trocas
num blog dedicado ao clube, administrado
por mim. Logo senti consequências disso,
com convites para pertencer à estrutura
do clube e, à posteriori, silenciar a minha
opinião. Acontece que o meu clube foi
sendo influenciado pela política autárquica,
o que me ofereceu a oportunidade de,
por vezes, debater ideias com políticos e
perceber a podridão que a maioria deles
representa, bem como de muita gente que
andou pela direcção e SAD do meu clube.
O movimento ultras também contribuiu
para uma melhor compreensão da política
internacional, pois há grupos de apoio muito
politizados, o que me levou a aprofundar
conhecimentos de contexto sociais em que
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de folgas e de turnos, dias de férias à última
da hora... O facto de preferir um emprego
menos remunerado, mas que me possibilita
ter o fim-de-semana disponível para o meu
clube, também foi algo que pesou na minha
vida.
Com mais participação no dia-a-dia
do clube e do grupo, tornei-me uma pessoa
mais interventiva, mais preocupada, mais
destemida, rebelde e até violenta. Despertei
para o caráter social do desporto, para o
que foi idealizado o meu clube e o seu papel
comunitário no presente. Desde tenra idade
partilhava as minha ideias e convicções
estão envolvidos. A questão da luta contra
a excessiva comercialização do Futebol
também foi importante para perceber que as
confederações que regulam o jogo, os grupos
privados de influenciadores económicos
e políticos e os governos se relacionam
intimamente. A minha dimensão política
também foi e é afectada pela repressão,
especialmente gerada pelo governo, a
polícia e pelas entidades que gerem o
desporto. Abriu-me os olhos para a forma
como estas entidades, muitas vezes aliadas
à desinformação passada pela comunicação
social, prestam um péssimo serviço ao povo