Revista da Misericórdia #46
MAIORIADADES foi o tema lançado para reflexão nesta última edição da Revista da Misericórdia. Logo a partir da capa, que reflete a Dendrocronologia (método científico pelo qual se define a idade de uma árvore com base no crescimento dos anéis do seu tronco), convidamos à descoberta do seu interior e às reflexões ali presentes. Destacamos a entrevista a Manuel Sobrinho Simões, onde assume que “envelhecer é uma chatice”, passando por outros textos que defendem a valorização de todas as idades como sendo MAIORES. Porque a IDADE não é um simples número, importa considerar as contribuições de cada geração e, como sociedade, mudarmos o pensamento.
MAIORIADADES foi o tema lançado para reflexão nesta última edição da Revista da Misericórdia.
Logo a partir da capa, que reflete a Dendrocronologia (método científico pelo qual se define a idade de uma árvore com base no crescimento dos anéis do seu tronco), convidamos à descoberta do seu interior e às reflexões ali presentes. Destacamos a entrevista a Manuel Sobrinho Simões, onde assume que “envelhecer é uma chatice”, passando por outros textos que defendem a valorização de todas as idades como sendo MAIORES. Porque a IDADE não é um simples número, importa considerar as contribuições de cada geração e, como sociedade, mudarmos o pensamento.
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Atualidades
do serviço de pediatria de neonatologia da maternidade Júlio
Dinis e o meu sogro também foi diretor da maternidade, era
pediatra.
A medicina é um elemento comum a vários membros da
família?
Na família temos uma tradição muito grande, do lado da minha
mulher, à infância: o meu cunhado é cardiologista pediátrico e
professor universitário. Já do meu
lado, e até tem muita graça, pois se
pensar nos meus avós e bisavós,
todos eles foram
clínicos gerais no interior: em Arouca
e no Bombarral. Já o meu pai não
quis ser clínico, foi professor de
Química Fisiológica, era um
académico. Tenho dois filhos que são
clínicos, talvez por influência da minha mulher; mas tenho um
outro filho que é engenheiro mecânico.
Nunca pensou em ser clínico?
Nunca vi doentes. Eu queria ser médico, mas nunca quis ser
clínico. Basicamente tenho pena dos doentes e lido mal com a
incerteza.
Todas as idades têm fatores de risco. Como é que se pode
viver melhor, onde pode ser feito o investimento?
É nas crianças, não tenha dúvidas. E já diz o ditado, “de
pequenino é que se torce o pepino” (risos). Cada vez estamos
mais convencidos disso, da importância que tem a
Temos de melhorar muito a
capacidade de integrar as pessoas
mais velhas nas gerações mais
novas.
alimentação, do estilo de vida e do contexto familiar. Sou
também sensível ao grande problema de Portugal que é a
pobreza. E nesta medida, penso que o que poderá alterar a
assimetria e a desigualdade serão as creches gratuitas e as
escolas do 1º ciclo. É lá que as crianças se habituam a ter
refeições a horas certas e aprendem a comer bem. Verificamos,
por outro lado, que há cada vez pessoas mais velhas com mais
problemas de saúde e, nestes casos, a palavra-chave é cuidar.
Ter mais tempo de vida nem
sempre significa mais qualidade?
Quando fazemos as tais métricas, do
ponto de vista de esperança de vida,
estamos muito parecidos com os
países comparáveis connosco como
Espanha, Grécia e Irlanda, mas temos
muito menos anos de vida com boa
qualidade. Aumentou a duração de vida, mas infelizmente com
pouca qualidade. Mas nem tudo é negativo: com o
envelhecimento - e apesar de haver um aumento da incidência
de cancro - a mortalidade está a diminuir.
Há fatores de risco comuns?
Há sim: noventa por cento dos tumores devem-se, sobretudo,
ao estilo de vida.
Se estivermos muito velhinhos iremos ter todos ter cancro, mas
vamos morrer de outra coisa, muito provavelmente. Na
realidade, a velhice é uma chatice. Com a idade temos duas
preocupações: os órgãos dos sentidos (a audição, a visão, o
olfato) e a mobilidade. Mas o nosso maior problema atualmente
é a solidão e a insegurança.