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Novembro 2009 - eBooksBrasil

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15<br />

Estou nesse serviço há anos. Salvo as honrosas exceções, que as há felizmente,<br />

tenho que assistir o desfile dos bajuladores; dos incompetentes metidos a gênios; dos<br />

que não têm o menor sentido de ética; dos hipócritas e invejosos que adoram quando um<br />

colega pisa na jaca. Quando alguém cai, babam de satisfação pelo fato em si e porque<br />

acham que essa vai ser a oportunidade à sua ascensão funcional, tenham ou não<br />

capacidade pro trabalho a ser realizado.<br />

Os chefes, muitos deles, sem qualquer preparo. Deslumbrados com o poder<br />

acham-se como a rainha da Inglaterra, só sairão do trono após a morte. Nessa visão de<br />

eternidade, manipulam pessoas; ordenam barbaridades e idiotices; privilegiam;<br />

perseguem; agridem; humilham; desqualificam; desrespeitam. Geralmente, não gostam<br />

de assessoria responsável. Preferem ao seu lado os omissos, os capachos que instigam<br />

sua vaidade. Que os ajudam, no frigir dos ovos, a cair do camelo. Gente que quando o<br />

chefe não é mais chefe contam, pra quem quiser ouvir, os podres pessoais e<br />

profissionais do ex-“Tonante”, apunhalando-o pelas costas. O mundo foi e é feito desse<br />

quadro sórdido e as pessoas não aprendem.<br />

Não sei porque suporto tudo isso. Devia chutar o pau dessa barraca.<br />

Tenho medo de confessar a mim mesma e aos outros - nem sob tortura - que não<br />

saio desse emprego porque sou covarde, acomodada. Tenho pavor de me lançar à<br />

procura de coisas novas, quaisquer que elas sejam. Tenho medo do fracasso.<br />

Aliás, minha vida inteira tem sido assim. Acomodação. Medo.<br />

Fui, quando pequena, o que se chamava “uma boa menina”. Filha única. Notas<br />

altas no colégio, elogios dos professores. Os amiguinhos aprovados por mamãe. A<br />

queridinha dos padrinhos Elisa e Ronald. A preferida das tias Nancy, Débora e Dóris.<br />

Dos tios Cloris e Christo. Um amor de criatura.<br />

Em casa, nunca pude fazer o que era do meu gosto. Pras minhas ideias e pedidos<br />

havia sempre um impedimento: “agora não dá, não tenho tempo”; “seu pai está sem<br />

dinheiro”; “logo agora, Maria Rosa, não está vendo que o papai está lendo o jornal?”.<br />

“Nem pense em ir sozinha ao cinema com Sidne”.<br />

Aos 17 anos arranjei um namorado “firme”. Todos os passos sob controle. Décio<br />

era cheio de salamaleques. Como todos pensavam que o rapaz teria um futuro<br />

promissor, o casamento foi marcado quando eu fiz 19 anos. Apesar das inúmeras<br />

investidas casei virgem.<br />

O herói do bairro revelou-se um desastre.

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