Novembro 2009 - eBooksBrasil
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Estou nesse serviço há anos. Salvo as honrosas exceções, que as há felizmente,<br />
tenho que assistir o desfile dos bajuladores; dos incompetentes metidos a gênios; dos<br />
que não têm o menor sentido de ética; dos hipócritas e invejosos que adoram quando um<br />
colega pisa na jaca. Quando alguém cai, babam de satisfação pelo fato em si e porque<br />
acham que essa vai ser a oportunidade à sua ascensão funcional, tenham ou não<br />
capacidade pro trabalho a ser realizado.<br />
Os chefes, muitos deles, sem qualquer preparo. Deslumbrados com o poder<br />
acham-se como a rainha da Inglaterra, só sairão do trono após a morte. Nessa visão de<br />
eternidade, manipulam pessoas; ordenam barbaridades e idiotices; privilegiam;<br />
perseguem; agridem; humilham; desqualificam; desrespeitam. Geralmente, não gostam<br />
de assessoria responsável. Preferem ao seu lado os omissos, os capachos que instigam<br />
sua vaidade. Que os ajudam, no frigir dos ovos, a cair do camelo. Gente que quando o<br />
chefe não é mais chefe contam, pra quem quiser ouvir, os podres pessoais e<br />
profissionais do ex-“Tonante”, apunhalando-o pelas costas. O mundo foi e é feito desse<br />
quadro sórdido e as pessoas não aprendem.<br />
Não sei porque suporto tudo isso. Devia chutar o pau dessa barraca.<br />
Tenho medo de confessar a mim mesma e aos outros - nem sob tortura - que não<br />
saio desse emprego porque sou covarde, acomodada. Tenho pavor de me lançar à<br />
procura de coisas novas, quaisquer que elas sejam. Tenho medo do fracasso.<br />
Aliás, minha vida inteira tem sido assim. Acomodação. Medo.<br />
Fui, quando pequena, o que se chamava “uma boa menina”. Filha única. Notas<br />
altas no colégio, elogios dos professores. Os amiguinhos aprovados por mamãe. A<br />
queridinha dos padrinhos Elisa e Ronald. A preferida das tias Nancy, Débora e Dóris.<br />
Dos tios Cloris e Christo. Um amor de criatura.<br />
Em casa, nunca pude fazer o que era do meu gosto. Pras minhas ideias e pedidos<br />
havia sempre um impedimento: “agora não dá, não tenho tempo”; “seu pai está sem<br />
dinheiro”; “logo agora, Maria Rosa, não está vendo que o papai está lendo o jornal?”.<br />
“Nem pense em ir sozinha ao cinema com Sidne”.<br />
Aos 17 anos arranjei um namorado “firme”. Todos os passos sob controle. Décio<br />
era cheio de salamaleques. Como todos pensavam que o rapaz teria um futuro<br />
promissor, o casamento foi marcado quando eu fiz 19 anos. Apesar das inúmeras<br />
investidas casei virgem.<br />
O herói do bairro revelou-se um desastre.