Novembro 2009 - eBooksBrasil
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17<br />
Tivemos um filho. Uma gracinha de criança. Hoje está tinhoso, cheio de<br />
vontades impostas aos gritos e sapateios. Nosso amado pimpolho é intolerável. A culpa<br />
é nossa, eu sei. Repetimos os erros de nossos pais e acrescentamos outros que o<br />
cotidiano nos leva a cometer.<br />
Lucas vai chegar tarde esta noite. Justificou que precisa ficar no escritório. Os<br />
diretores Maibon, Ana, Chaves, Gilberto e Lala, convocaram reunião fora do horário de<br />
expediente. Que seja! Momento propício pra conversar com meu espelho. Faz tempo<br />
que não o procuro.<br />
Deparo-me com uma mulher de 37 anos, segundo dizem, no auge da vida, de<br />
seus encantos. Que encantos terei eu que não os vejo? Se os tive, foram consumidos<br />
pelo tédio da minha vida. Continuo com a boca amarga, o rosto travado. Penso, analiso,<br />
mas não sei decidir o que é melhor pra mim. Não tenho coragem pra ação e muito<br />
menos pra reação.<br />
Que destino este que me coube. O de ser uma figura amorfa.<br />
Não sou feliz porque levo uma vida estúpida, também, porque não movo um<br />
dedo diante do mundo que se desmorona à minha volta. Estou aqui estática, presa em<br />
toneladas de granito. Minha voz não é ouvida, talvez porque em vez de falar, sussurre.<br />
Sempre o medo de desagradar aos outros. O medo de ser inoportuna, inconveniente.<br />
Sempre o pavor de dizer alguma besteira, de ferir suscetibilidades. O medo do ridículo,<br />
o medo da crítica impiedosa.<br />
Omito-me quando deveria opinar e lutar pelo que acredito. Fecho os olhos, os<br />
ouvidos e a boca. Pareço e sou conivente com a sordidez generalizada.<br />
Maria Rosa, uma existência que passa - que eu deixo passar - sem imprimir<br />
marcas, boas ou más. Vivo no lado morno da vida, o mais execrável de todos.<br />
de navalha.<br />
O pior de tudo é que tenho consciência disso, o que me machuca como o corte<br />
Diante da minha agonia o espelho, desta vez, me deu respostas.<br />
Disse suavemente: “essa menina, a sua angústia está na sua passividade. O<br />
raciocínio lúcido, a ação, destroem o medo. Fortalecem. Saboreie as doçuras do amor,<br />
da paixão, da amizade, jogue fora seus azedumes. Respeite-se e faça-se respeitar.<br />
Entregue-se à vida. Seja dedicada e ética no seu trabalho, cada um colherá o que plantar.<br />
Você não é obrigada a agradar gregos e troianos. Trate de saber a quem dar afeto, em<br />
quem confiar. Não fale sobre o que não sabe das pessoas. Por sua vontade pode dar-se