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Novembro 2009 - eBooksBrasil

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21<br />

Tendo que conviver com aquela gente para chegar ao poder e para exercê-lo, fui<br />

obrigada a derramar sangue, a tomar decisões radicais. Isso pouco me importa, o meu<br />

objetivo foi alcançado. O Egito resplandece e eu sou o Egito.<br />

Para chegar aonde cheguei e realizar o que pretendia, descumpri as sagradas<br />

regras de Maât, a deusa da Verdade e da Justiça. Sei que quando estiver diante de<br />

Osires, o deus dos mortos e de seus juízes, diante de Hórus, o poderoso deus com<br />

cabeça de falcão, de Anubis, o deus com cabeça de chacal que preside os rituais da<br />

mumificação, terei que prestar contas. Minha alma, meu coração - representados pelo<br />

escaravelho que levarei no peito - serão pesados na balança da Justiça. Maât estará<br />

presente. A pena branca da deusa será a medida para minhas ações. Não há como<br />

escapar desse dia. Hamit, o “devorador”, aguardará o movimento da balança. Será a<br />

vida para sempre ou a aniquilação. Essa hora está próxima.<br />

Hoje, porém, sentindo a fragrância das flores, ouvindo o murmúrio das águas do<br />

Nilo levadas por Hapi, o deus desse rio incomparável, sob o estupendo manto de Nut,<br />

posso regozijar-me porque meu triunfo foi completo. Minha presença marcou as duas<br />

terras, como na batalha contra a invasão dos núbios quando comandei o exército. Jovem<br />

ainda, lutei ao lado de meus guerreiros e venci.<br />

Em tudo mostrei minha coragem. Fiz jus ao título de “Poderoso Ser”, de “Filha<br />

do Mais Sagrado de Todos os Deuses”.<br />

A ingenuidade não é um dos meus defeitos. Meu sobrinho está sendo<br />

implacável, como eu fui. Com minha morte os perdedores, os que não tiveram coragem<br />

de me enfrentar face a face, os que tiveram seus interesses contrariados vão agir, vão<br />

insuflar Tutmósis à vingança. O magma desse ódio contido escorrerá com rapidez e<br />

violência. Não haverá ninguém para impedi-los.<br />

Sei, entretanto, que as manobras que farão para destruir meu reinado, não<br />

durarão para sempre. Depois da vingança, seja qual for e dure o quanto durar, meu<br />

nome, meu cartucho, minha imagem, meus obeliscos, os monumentos e templos que<br />

construí, ressurgirão com força total. O mundo saberá quem foi Hatchepsut.<br />

Nesses anos de reinado somente um fato sufocou meu espírito. O afastamento de<br />

Senmut, meu arquiteto, meu conselheiro, meu amor, meu amante. Senmut, com seus<br />

grandes olhos negros. Sua boca, que eu ainda sinto em minha pele. Senmut, com aquela<br />

voz e aquelas mãos que me traziam paz à alma e incendiavam meu corpo.

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