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Novembro 2009 - eBooksBrasil

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Inglaterra e da luta de Ricardo Coração de Leão, um dos três filhos do monarca, pelo<br />

trono. Elenco de feras debulhando-se em fantásticas interpretações.<br />

29<br />

Terminada a sessão, caminharam à casa de Dorothy e Maninho Pinto.<br />

A porta estava aberta e a amiga gritou: “não se bebe nada nesta casa?” Maninho,<br />

na maior simpatia devolveu: “tudo o que vocês quiserem!”<br />

Fizeram lanche com pão d'água saído da fornalha. O célebre pão “bundinha”, o<br />

mais delicioso de todos. O papo era sempre tão animado que sair da casa de Maninho<br />

ficava difícil. Antes da “hora aberta”, como Feliciano chama o badalar da meia noite,<br />

quando não se deve sair a céu descoberto porque é a hora da circulação das almas, a<br />

moça e a amiga se despediram. Margareth emprestou a bicicleta. A amiga nos pedais, a<br />

moça no bagageiro, assim atravessaram a cidade quase deserta.<br />

A noite apresentava-se com suave sopro atlântico. Voltaram a falar sobre o filme<br />

destacando a interpretação de Katharine Hepburn, divina em sua Alienor de Aquitânia.<br />

O vento farfalhava delicadamente as folhas das árvores da Praça Coronel<br />

Macedo. Ao fundo, na colina, a moça mais uma vez admirou a Igreja de Nossa Senhora<br />

do Pilar, soberana sobre a cidade.<br />

Na ladeira, a caminho da Ponta da Pita, a bicicleta serpenteava gemendo no<br />

paralelepípedo. As duas, às gargalhadas, faziam contorções circenses pra não se<br />

estatelarem no chão. Quando passaram pelo campo de futebol do 29 de maio - Honra e<br />

Glória - viram que a noite estava clara, era a performance da lua muçulmana.<br />

No trecho do Clube Náutico alguém ouvia Dalva de Oliveira cantando<br />

“Confession”. A moça doida por tangos, sentindo-se num palco portenho, soltou a voz<br />

num espanhol macarrônico: “... hoi despues de un año atroz te vi passar. Me mordi pa<br />

no llamarte. Ivas linda como un sol. Se paravam pa mirarte...”. O bandoneon esmagava<br />

a alma da cantora.<br />

Passando pela maternidade cruzaram com um jipe. O motorista, finíssimo,<br />

aproximou-se da bicicleta e berrou: “tão querendo batê cás deis?”. A amiga respondeu:<br />

“vai-te à merda”, e seguiu pedalando. A moça, muda de medo, olhava pra ver se o jipe<br />

não tinha feito a volta.<br />

No bairro do Lacerda onde moravam, desceram da bicicleta e fizeram a pé o<br />

caminho da rua à casa. O dito era de terra e bastante inclinado.

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