iii FEBRE REUMÁTICA
iii FEBRE REUMÁTICA
iii FEBRE REUMÁTICA
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PROKOPOWITSCH AS<br />
e col.<br />
Epidemiologia da febre<br />
reumática no século XXI<br />
EPIDEMIOLOGIA E TENDÊNCIAS DA<br />
DOENÇA <strong>REUMÁTICA</strong> NO MUNDO<br />
A febre reumática é uma complicação tardia nãosupurativa<br />
de infecções por estreptococos beta-hemolíticos<br />
pertencentes ao grupo A de Lancefield. Geralmente,<br />
afeta indivíduos entre 5 e 18 anos de idade, de<br />
qualquer raça e em qualquer parte do mundo (1) . Essa<br />
doença continua a ser um problema relevante de saúde<br />
pública nos dias atuais, especialmente nos países<br />
pobres, nos quais estima-se que a febre reumática seja<br />
responsável por cerca de 60% de todas as doenças<br />
cardiovasculares em crianças e adultos jovens (2) . Além<br />
disso, trata-se de uma doença que produz alto custo<br />
socioeconômico, não somente para os serviços de saúde<br />
como também para os pacientes e suas famílias.<br />
Um recente estudo brasileiro demonstrou que 22% dos<br />
pacientes com febre reumática em idade escolar apresentaram<br />
alguma repetência, e que 5% dos pais de<br />
pacientes perderam seus empregos em decorrência do<br />
absenteísmo do trabalho (3) .<br />
Durante a segunda metade do século XX, especial-<br />
EPIDEMIOLOGIA DA <strong>FEBRE</strong> <strong>REUMÁTICA</strong><br />
NO SÉCULO XXI<br />
ALEKSANDER SNIOKA PROKOPOWITSCH, PAULO ANDRADE LOTUFO<br />
Divisão de Clínica Médica — Hospital Universitário da Universidade de São Paulo<br />
Endereço para correspondência: Av. Professor Lineu Prestes, 2565 —<br />
Cidade Universitária — CEP 05508-000 — São Paulo — SP<br />
A febre reumática, complicação tardia não-supurativa de infecções por estreptococos<br />
do grupo A de Lancefield, continua a ser um relevante problema de saúde<br />
pública, especialmente nos países em desenvolvimento. Este artigo aborda de maneira<br />
geral aspectos epidemiológicos atuais da febre reumática e das infecções por<br />
estreptococos do grupo A, salientando a importância dos sorotipos mais reumatogênicos<br />
dessas bactérias e o ressurgimento recente de infecções estreptocócicas<br />
graves e invasivas, associado a surtos de febre reumática aguda em escolares e<br />
adultos jovens, observados principalmente nos Estados Unidos e na Europa.<br />
Palavras-chave: febre reumática, infecções estreptocócicas, epidemiologia.<br />
(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;1:1-6)<br />
RSCESP (72594)-1501<br />
mente após a 2ª Guerra Mundial, ocorreu grande queda<br />
da incidência de febre reumática aguda, notada principalmente<br />
nos Estados Unidos, no Japão e na Europa,<br />
explicável pelo maior acesso ao uso de antibióticos,<br />
pela contínua melhora de condições de vida e,<br />
provavelmente, pela menor virulência de cepas estreptocócicas.<br />
Por exemplo, na Dinamarca, a incidência<br />
anual de febre reumática aguda caiu de 200 para 11<br />
casos por 100 mil pessoas entre os anos de 1862 e<br />
1962, chegando a atingir cerca de um caso para cada<br />
100 mil indivíduos após a introdução da penicilina (4, 5) .<br />
Durante a década de 1980, a incidência de casos agudos<br />
de febre reumática manteve-se em 0,06 caso por<br />
mil pessoas no Japão e na Grã-Bretanha, e em 0,7<br />
caso por mil pessoas no Estados Unidos (1) .<br />
Nos países em desenvolvimento, também houve redução<br />
da incidência de febre reumática aguda durante<br />
a segunda metade do século XX, mas em menor monta<br />
que aquela observada no Primeiro Mundo. Na região<br />
Sul do Brasil, a incidência da doença chegou a<br />
ser de um para cada mil habitantes durante a década<br />
de 1970 (6) , e de 3,6 para cada mil habitantes em algu-<br />
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 1 — Janeiro/Fevereiro de 2005 1