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Revista Dr Plinio 243

Junho de 2018

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gos anos, e que acabava de trazer para<br />

Juliano as tropas de duas províncias para<br />

servirem na guerra contra a Pérsia.<br />

Juliano prosseguiu: “Como? É Artêmio?<br />

Ordeno que o despojem de suas<br />

dignidades e de suas roupas, e que<br />

seja imediatamente castigado pelas<br />

palavras que acaba de pronunciar.”<br />

Depois de despido, o mártir teve<br />

as mãos e os pés amarrados com cordas<br />

pelos algozes; estes o estenderam<br />

no chão e açoitaram-lhe o ventre e as<br />

costas com nervos de boi, durante um<br />

espaço de tempo tão longo que foram<br />

obrigados a se alternarem quatro vezes.<br />

Contudo, Artêmio não soltou um<br />

único suspiro, nem seu rosto se alterou.<br />

Dir-se-ia que não era ele quem<br />

sofria, mas outra pessoa qualquer.<br />

Todos os assistentes estavam surpreendidos,<br />

o próprio Juliano não escondia<br />

a admiração.<br />

A idolatria seria<br />

irremediavelmente destruída<br />

Levados para a prisão, os três mártires<br />

para ela se dirigiram entoando<br />

louvores a Deus. Artêmio dizia a si<br />

mesmo: “Agora os estigmas de Cristo<br />

já estão impressos no teu corpo; só falta<br />

dares tua alma, tua vida, com o resto<br />

do teu sangue.”<br />

Depois de muitas tentativas infrutíferas,<br />

por meio de torturas e argumentos,<br />

para levar Santo Artêmio a apostatar,<br />

Juliano condenou-o à decapitação.<br />

Antes da execução, o mártir pediu<br />

momentos para orar. Agradeceu a<br />

Deus a graça de sofrer pela glória de<br />

seu divino Nome e suplicou-Lhe que<br />

Se compadecesse de sua Igreja, ameaçada<br />

com terríveis calamidades pelo<br />

apóstata Juliano:<br />

“Vossos altares serão destruídos,<br />

vosso santuário profanado, o sangue<br />

de vossa aliança menosprezado por<br />

causa de nossos pecados e das blasfêmias<br />

que Ario vomitou contra Vós, Filho<br />

Unigênito, e contra vosso Espírito<br />

Santo, separando-Vos da consubstancialidade<br />

do Pai e supondo-Vos estranho<br />

à sua natureza; afirmando que<br />

sois criatura, Vós, o Autor de toda a<br />

Criação; subordinando-Vos ao tempo,<br />

Vós que fizestes os séculos, e dizendo:<br />

‘Havia o Filho que não era’, chamando-Vos<br />

de filho da vontade.”<br />

Depois de dobrar três vezes o joelho<br />

voltado para o Oriente, novamente o<br />

mártir orou, dizendo:<br />

“Deus de Deus, só de um só, Rei de<br />

Rei, Vós que estais sentado nos Céus à<br />

direita de Deus Pai que Vos gerou, Vós<br />

que viestes à Terra para a salvação de<br />

todos nós, Vós que sois a coroa dos<br />

que combatem pela piedade, ouvi favoravelmente<br />

vosso humilde e indigno<br />

servo, recebei a minha alma em paz.”<br />

Uma voz respondeu-lhe do Céu que<br />

sua oração seria ouvida; além disso, o<br />

imperador apóstata pereceria na Pérsia,<br />

que teria um sucessor cristão e<br />

que a idolatria seria irremediavelmente<br />

destruída. Depois de ouvir essas palavras,<br />

cheio de alegria, Artêmio apresentou<br />

a cabeça à espada.<br />

Católico combativo<br />

que agride, toma a<br />

iniciativa e interpela<br />

Vamos recompor um pouco a cena<br />

para dar todo o relevo à narração.<br />

Imaginemos num circo romano<br />

uma tribuna imperial alta, com colunas,<br />

coberta por um tecido precioso,<br />

o imperador sentado numa espécie<br />

de trono, naturalmente com todo<br />

o pessoal de serviço por detrás dele,<br />

leques se agitando, flabelli para impedir<br />

que as moscas pousassem nele,<br />

uma série de dignatários dentro da<br />

tribuna, depois o povo lotando todo<br />

o resto do teatro. Provavelmente, como<br />

eram os espetáculos, quer dizer,<br />

com as arquibancadas necessárias<br />

para os nobres, depois para os burgueses<br />

e a plebe. Eu creio que já não<br />

havia mais a bancada das vestais,<br />

porque estas se tinham extinguido.<br />

Ao lado, um oficial revestido do traje<br />

próprio aos oficiais romanos, com<br />

capacete, couraça, armas, junto ao imperador.<br />

Esse oficial é um homem de<br />

alta categoria. O livro fala em duque.<br />

É um anacronismo, pois não havia<br />

ainda duques, mas devia ser um chefe<br />

de duas importantíssimas unidades<br />

do império romano, que vinha a Roma<br />

trazendo tropas para serem utilizadas<br />

na luta contra a Pérsia. Ele estava,<br />

portanto, na tribuna imperial, quiçá<br />

muito mais como uma distinção do<br />

que como guarda do corpo do imperador.<br />

Era um hóspede de honra.<br />

Juliano, o Apóstata - Museu<br />

de Cluny, França<br />

LPLT (CC3.0)<br />

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