miolo final 1 - Revista Panamericana de Infectología
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<strong>Revista</strong> <strong>Panamericana</strong> <strong>de</strong> <strong>Infectología</strong> • Volumen 6 • Nº 1 • Ene-Mar/2004<br />
Figura 3. Varíola em fase pustulosa. Observação<br />
pessoal, Moçambique, 1968.<br />
animais e vectores, criando assim condições para o<br />
aumento das doenças transmitidas por carraças,<br />
mosquitos ou outros insectos, afecções cuja maior<br />
incidência suce<strong>de</strong> no tempo estival. Um interessante<br />
trabalho publicado na Lancet relaciona o aumento do<br />
número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> encefalite vírica transmitida por<br />
carraças, observado na região <strong>de</strong> Estocolmo na década<br />
<strong>de</strong> 90, com as temperaturas registadas nesses anos, em<br />
que os invernos foram mais amenos e as primaveras<br />
surgiram mais cedo (36) . Desse modo estão reunidas<br />
condições para que doenças como a doença <strong>de</strong> Lyme, a<br />
febre da carraça, a erlichiose, a leptospirose e a leishmaniose<br />
possam assumir maior incidência. Também doenças<br />
tropicais, como o <strong>de</strong>ngue, a malária, a febre amarela e a<br />
tripanossomíase po<strong>de</strong>rão vir a esten<strong>de</strong>r-se às regiões<br />
subtropicais e mesmo às temperadas, já que o<br />
aquecimento global favorece a migração dos vectores para<br />
essas áreas. De citar a propósito a recente eclosão no<br />
Brasil <strong>de</strong> um surto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue que afectou milhares <strong>de</strong><br />
pessoas vivendo em zonas urbanas. A malária,<br />
anualmente responsável por 300 a 500 milhões <strong>de</strong> casos<br />
e até três milhões <strong>de</strong> mortes, é outra das doenças em<br />
que a elevação da temperatura po<strong>de</strong> propiciar o<br />
alargamento das suas áreas <strong>de</strong> incidência, sabido que o<br />
Plasmodium falciparum só se <strong>de</strong>senvolve a temperaturas<br />
superiores a 16°C e o Pl. vivax a temperaturas superiores<br />
a 14,5°C, e que a reprodução, crescimento e número <strong>de</strong><br />
picadas do mosquito são facilitados pelo aumento da<br />
temperatura, não sobrevivendo o vector a temperaturas<br />
inferiores a 10°C (37) .<br />
O aquecimento global provoca também o <strong>de</strong>gelo<br />
polar e o consequente aumento do nível das águas do<br />
mar, <strong>de</strong>sse modo causando inundações nas zonas<br />
costeiras baixas, o que nos países do Terceiro Mundo,<br />
com baixas condições sanitárias, cria condições para<br />
44<br />
a eclosão <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> cólera e <strong>de</strong> disenteria. O<br />
fenómeno meteorológico El Niño po<strong>de</strong> ser um exemplo<br />
disso, já que parece ter favorecido as epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong><br />
cólera registadas na década <strong>de</strong> 90 (38) em que pela<br />
primeira vez se observou a simultaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas<br />
epi<strong>de</strong>mias com diferente etiologia: uma epi<strong>de</strong>mia<br />
afectando a América Latina, que se iniciou nas costas<br />
do Peru e do Equador, provocada pelo V. cholera 01, e<br />
uma outra que a partir do subcontinente indiano<br />
alastrou pela Ásia, tendo como agente o V. cholera<br />
0139, estirpe até então não conhecida (39) .<br />
Os aspectos focados, se permitem evi<strong>de</strong>nciar o<br />
dinamismo e a importância actual da patologia infecciosa,<br />
não esgotam este aliciante tema. Muito ficou por dizer,<br />
bastando citar, a título <strong>de</strong> exemplo, os problemas<br />
infecciosos que po<strong>de</strong>m advir <strong>de</strong> um crescente recurso à<br />
xenotransplantação, a eventual etiologia infecciosa <strong>de</strong><br />
muitas doenças <strong>de</strong>generativas crónicas, a procura <strong>de</strong><br />
novas e mais eficazes vacinas, e as consequências da<br />
manipulação genética dos agentes microbianos.<br />
De salientar também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vigilância<br />
internacional permanente. A recente eclosão <strong>de</strong> um surto<br />
<strong>de</strong> varíola do macaco nos EUA, doença que pela primeira<br />
vez se exteriorizou do continente africano, afectando<br />
71 casos humanos em seis Estados americanos (40) é bem<br />
exemplo das ameaças que inopinadamente po<strong>de</strong>m<br />
surgir. Isso mesmo foi entendido pela União Europeia,<br />
que <strong>de</strong>cidiu criar um centro europeu <strong>de</strong> vigilância e<br />
investigação, nos mol<strong>de</strong>s dos Centers for Disease Control<br />
and Prevention, a entrar em funcionamento em 2005 (41)<br />
.<br />
Todas estas questões que a patologia infecciosa hoje<br />
nos põem são um <strong>de</strong>safio aliciante que o homem sempre<br />
saberá ultrapassar, conquanto o obrigue a uma<br />
permanente luta, que só po<strong>de</strong>rá findar se a Vida um dia<br />
se extinguir na Terra.<br />
Referências<br />
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