miolo final 1 - Revista Panamericana de Infectología
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Relato do caso<br />
G.F., masculino, 35 anos, natural <strong>de</strong> Ipanema (MG),<br />
proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> São Paulo há 35 anos, branco, solteiro<br />
e auxiliar <strong>de</strong> escritório. Paciente HIV positivo há seis<br />
anos com queixa <strong>de</strong> verrugas na face há dois anos. As<br />
lesões iniciaram-se na face em região malar direita e<br />
lábios acompanhadas apenas <strong>de</strong> prurido (figura 1).<br />
Paciente foi submetido a tratamento clássico com<br />
cauterização química e terapia anti-retroviral (TARV)<br />
com estavudina, lamivudina e efavirenz, verificandose<br />
melhora das lesões conforme se evi<strong>de</strong>ncia<br />
claramente na figura 2. Um ano após este tratamento,<br />
o paciente volta a apresentar lesões semelhantes,<br />
porém em caráter disseminado, comprometendo toda<br />
a face e o couro cabeludo. Foi proposto um novo ciclo<br />
<strong>de</strong> terapia tópica com ácido tricloroacético em várias<br />
porcentagens com regressão parcial do quadro. Após<br />
três meses apresentou recru<strong>de</strong>scência das lesões, com<br />
acometimento também <strong>de</strong> genitália e cavida<strong>de</strong> oral.<br />
Devido ao exposto, optou-se pela realização <strong>de</strong> biópsia<br />
<strong>de</strong> pele em face que revelou processo inflamatório<br />
crônico com acantose e papilomatose. Como alicerce<br />
diagnóstico proce<strong>de</strong>mos a feitura da reação <strong>de</strong><br />
imunoperoxidase do material para HPV com resultado<br />
policlonal (HPV genérico VASP positivo) e à pesquisa<br />
com reação <strong>de</strong> hibridização in situ para os papilomavírus<br />
6, 11, 16 e 18 resultou negativa. O<br />
paciente estava em acompanhamento ambulatorial<br />
com resistência aos tratamentos convencionais para o<br />
HPV e como ressalva não era a<strong>de</strong>rente à TARV.<br />
Apresentava contagem <strong>de</strong> células CD4 <strong>de</strong> 28 céls./<br />
mm 3<br />
e carga viral <strong>de</strong> 139.000 cópias/ml em maio <strong>de</strong><br />
2003. Foi internado em julho <strong>de</strong> 2003 por quadro <strong>de</strong><br />
insuficiência hepática pelo vírus da hepatite C,<br />
evoluindo para óbito nesta internação por quadro <strong>de</strong><br />
sepse e <strong>de</strong> falência hepática.<br />
Discussão<br />
As lesões cutâneas induzidas pelo HPV ocorrem<br />
com maior freqüência, gravida<strong>de</strong> e recidivas em<br />
portadores <strong>de</strong> HIV, sendo comum a presença <strong>de</strong><br />
verrugas <strong>de</strong> difícil tratamento. Pacientes imunossuprimidos<br />
<strong>de</strong> alguma forma permitem a expressão <strong>de</strong><br />
vírus <strong>de</strong> formas mais agressivas, como no caso do HPV<br />
<strong>de</strong>scrito acima. O diagnóstico <strong>de</strong>rmatológico da<br />
infecção pelo HPV é fundamentalmente clínico,<br />
baseado nas características morfológicas e topográficas<br />
das lesões. Quando há dúvidas po<strong>de</strong>-se recorrer à<br />
biópsia para estudo anatomopatológico. Chama a<br />
atenção o fato <strong>de</strong> não conseguirmos isolar nas lesões<br />
os subtipos mais freqüentes <strong>de</strong> HPV (6, 11, 16, 18),<br />
o que reafirma o fato da imunossupressão permitir a<br />
invasão e disseminação <strong>de</strong> outros subtipos habitualmente<br />
não encontrados. A imunossupressão é tão<br />
Silva et al • Lesão em face e couro cabeludo pelo papilomavírus humano...<br />
Figura 1. Foto do paciente antes do tratamento.<br />
Figura 2. Foto do paciente após o tratamento com<br />
cauterização química e terapia anti-retroviral.<br />
importante para a disseminação <strong>de</strong> infecções que após<br />
a TARV iniciada e queda da carga viral, o paciente<br />
apresentou melhora clínica com diminuição das lesões.<br />
A ação combinada <strong>de</strong> TARV com o ácido tricloroacético<br />
mostrou ser muito eficaz para tais casos e provavelmente<br />
se o nosso paciente tivesse sido mais<br />
a<strong>de</strong>rente aos esquemas anti-retrovirais propostos e sem<br />
as alterações <strong>de</strong> cunho, hepático po<strong>de</strong>ríamos ter<br />
observado resultados mais satisfatórios.<br />
Conclusão<br />
Após a introdução da TARV houve diminuição da<br />
mortalida<strong>de</strong> pelo HIV <strong>de</strong>vido à melhora da imunida<strong>de</strong><br />
e redução notável <strong>de</strong> doenças oportunistas. A<br />
imuno<strong>de</strong>pressão induzida pelo HIV está relacionada<br />
com altos índices <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecções<br />
oportunistas, tais como a infecção pelo HPV.<br />
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