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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ André Luiz Torquato ...

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trabalho, detemo-nos apenas em dois, ou seja, nos que promoveram entre si interações sociais<br />

ininterruptas por décadas e gerações, a saber: o patrão e o freguês.<br />

Ao desenhar uma pirâmide social dos envolvidos na produção e no comércio da zona<br />

rural do Município de Breves/PA neste período (estendendo-se até os primeiros anos da década<br />

de 1980, com poucas modificações após esse período), ela se apresentaria da seguinte maneira:<br />

na base da pirâmide estariam os seringueiros, locatários de pequenas extensões de terras com<br />

funções pré-definidas para um período anual, qual seja: a extração de borracha no período<br />

menos chuvoso do ano (maio a janeiro); a extração de madeira e lenha no período chuvoso<br />

(fevereiro a abril); e em concomitância com essas, a “plantação de roçados” de milho, feijão,<br />

arroz. Na parte superior da pirâmide, encontrar-se-ia o patrão, o dono ou suposto dono da área<br />

territorial do seringal. Este era quem locava as pequenas parcelas de sua propriedade aos<br />

fregueses (colocações), estabelecendo com o ato uma relação de compromisso e fidelidade<br />

mercantil entre si. Ou seja, do freguês para com seu patrão, estava a exercer suas funções<br />

anuais, repassar sua produção e se abastecer de gêneros diversos exclusivamente na casa<br />

comercial do seringal; do patrão para com o freguês, cabia assegurar condições necessárias aos<br />

trabalhos dos fregueses e “comprar” toda a sua produção. E ainda, suprir toda e qualquer<br />

necessidade daqueles através de seu estabelecimento comercial ou influência.<br />

Ainda nesta pirâmide, transitando entre a base e o topo, encontravam-se os regatões e<br />

os fregueses autônomos. Os primeiros eram comerciantes itinerantes que percorriam as mais<br />

distantes localidades, comprando partes da produção dos seringais e abastecendo os comércios<br />

dos patrões com mercadorias diversas, e os segundos eram pequenos proprietários de terras<br />

com produção extrativista e agrícola de base familiar.<br />

As relações do regatão e do freguês autônomo com a estrutura organizacional principal<br />

dos seringais (patrões e seus fregueses locatários) eram fluidas e muitas vezes esporádicas, não<br />

havendo a relação de compromisso e fidelidade existente entre aqueles. Ou seja, estes tinham a<br />

liberdade de negociar com quem lhes oferecesse melhores mercadorias, preços e condições de<br />

trabalho. Sendo assim, a dinâmica de um seringal, bem como os fatores que contribuiam para a<br />

sua manutenção e seu sucesso econômico, dependia também da inserção destes atores à rede de<br />

interdependência. Com efeito, a pujança econômica de um patrão estava diretamente<br />

relacionada ao número de fregueses trabalhando em suas terras, somada à regularidade do<br />

regatão em seu porto e ao número de fregueses autônomos sob sua influência. O êxito do patrão<br />

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