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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ André Luiz Torquato ...

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formavam um perfeito labirinto de relações que, embora diversas negociações tomassem<br />

diferentes rumos, no final, grande parte dos resultados econômicos destas acabavam se<br />

afunilando, manipuladamente ou não, em direção aos seus interesses.<br />

Com a atividade madeireira na Ilha do Mututi e em outras localidades do município,<br />

houve uma razoável circulação de dinheiro em espécie, tanto antes, quanto depois do fim da<br />

organização. Contudo, esse dinheiro indubitavelmente era canalizado de volta aos patrões por<br />

criação de artifícios ou por posição privilegiada no local. No trabalho de campo encontramos<br />

instrumentos que levavam a essas duas vias. O primeiro instrumento era a promoção de<br />

grandes festejos dançantes, bingos e torneios de futebol, onde os trabalhadores eram o público<br />

esperado. Com efeito, em poucas horas, o consumo de bebidas, comidas e outros produtos<br />

oferecidos no momento, exauria o ganho de um ou dois meses de trabalho. O segundo, diz<br />

respeito à presença de fracas e insuficientes opções de estabelecimentos comerciais onde se<br />

pudesse consumir. O que permitia o quase monopólio do comércio do patrão por toda a região<br />

por conta da variedade e qualidade de produtos expostos nas prateleiras. Fazendo com que<br />

essas e outras práticas comerciais levassem muitos patrões a se tornarem pequenos<br />

empresários, aplicando seus lucros em renovados ramos como o transporte fluvial de<br />

passageiros, postos de combustível, farmácias, comércios etc. Desta forma, em pouco tempo<br />

esses empresarios se figuraram, juntamente com suas famílias, como a elite econômica e<br />

política do município.<br />

Na Ilha do Mututi, a condição de líder da organização por alguns anos, proporcionou<br />

ao patrão que substituiu Antônio <strong>Torquato</strong>, o acumulo de capital que foi investido, entre<br />

outros, na modernização da serraria, na aquisição de embarcações de médio porte, casas e<br />

pontos comerciais em centros urbanos, reforma de casas e pontes da vila, etc. Esse<br />

crescimento reforçava cada vez mais a sua posição de destaque na sociedade ribeirinha e,<br />

quando do fim da organização, no final da década de 1980, o fato não significou o<br />

esgotamento da sua influência sobre a maioria dos habitantes da Ilha; sua condição de maior<br />

proprietário de comércio e meios de produção existentes na localidade, continuou lhe<br />

garantindo papel de destaque na região: muitas famílias dependiam (e ainda dependem) dele<br />

para trabalhar, para negociar e até mesmo para ter onde morar. Por intermédio dessa<br />

dependência, desde o inicio, o novo patrão se tornou um grande formador de opiniões dentro<br />

da localidade, atraindo para si a atenção de políticos em campanha ou em legislatura. Fato que<br />

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