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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ André Luiz Torquato ...

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naquela punta? cumé que essa madera tava lá? Fui mancada minha, eu nem lembrava que eu<br />

tinha dito isso, mas despois ele ficu fui alegre (risos)”<br />

Informante 16: “Com a madera tudo que era freguês queria pegar era no dinhero, mas<br />

nós sabia mais o menos que eles podiam trazer, aí pra arguns num liberava quase nada...<br />

Tinha uns que vinha querendo dinhero e mercadoria pra tirar vamo supo trezentas tora, mas<br />

nós sabia que ele não ia dá conta daquele serviço tudo no prazo acertado; então a gente<br />

dispistava o cabôco, mas tinha que sabe falá, ai cum jeito as vez eu falava, que num tinha<br />

dinhero que a mercadoria tava poca... mas tinha que ir regrando mesmo, às vez quando tinha<br />

bem mercadoria nos já impurava mais uma mercadoriazinha pro sardo do caboco não sê<br />

muito grande. É seu home! tinha que ter ciência atrás do barcão, se não eles quiria que fosse<br />

como no tempo da borracha, naquele tempo eles pegavu o mantimento pra pagar com um, dois<br />

mês; na madera não, tinha que ser ligero, duas semana no máximo, se não o dinhero perdia o<br />

valo e também a gente perdia se ficasse esperando muito pela madera, por que a serraria<br />

parava.”<br />

Wagley (1977) afirma, no final década de 1950, que o sistema de aviamento era o<br />

principal elemento estrutural que regulava as relações sociais na Amazônia. Esse estudo<br />

mostrou que no antigo ‘Seringal Cruzeiro’, esta regulação continuou com a transposição da<br />

estrutura organizacional utilizada na extração da borracha para a atividade madeireira<br />

conservando as mesmas relações que historicamente estiveram presentes na localidade.<br />

Mostrou ainda que os fregueses do patrão Antônio <strong>Torquato</strong> constituía com este, uma<br />

organização onde um dependia do outro na mesma proporção, embora a condição de patrão<br />

proporcionasse melhores resultados na relação por conta da posse da terra e dos meios de<br />

produção. Contudo, longe do estereótipo do barracão do passado que apresentava uma imagem<br />

extrema de exploração e maus tratos, o grupo vivia em certa harmonia em um ambiente<br />

relacional de cooperação e ajuda mútua construída ao longo de gerações na mesma localidade.<br />

De acordo com a pesquisa, a organização foi mantida com intuito de preservar a<br />

coordenação dos trabalhos e garantir a canalização dos lucros da nova atividade através de<br />

financiamentos diversos. E de forma contingente, a despeito de tudo, ainda garantiu ao patrão a<br />

conveniente fama de “bom patrão”, aquele que buscou de diversas maneiras condições de<br />

prover os anseios de seus fregueses e por isso fazendo-se merecedor de respeito e confiança de<br />

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