01.03.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ André Luiz Torquato ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ André Luiz Torquato ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ André Luiz Torquato ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Informante 16: “O seu Antônio tinha uns quantos freguês, o sinhú sabe, né? ...tudo<br />

tinho amizade nele, ele era bão patrão, num tinha quem num gustasse daquele home, tudo<br />

mundo trabalhava satisfeto pre’ele, ele num se negava pra nada, ajudava muita gente com<br />

dinheiro, com passage pra cidade, madera, prego pra casa, de tudo o que o freguês tivesse<br />

percisando; e se eu tu dizendo tudo e por que era tudo seu home! Quaji tudo os morador daqui<br />

e daquele utro rio dali da frente e aqui de detrás dependia dele. esse pessoar tudo só<br />

cumprava e só vendia com ele. ...mas mermo ansim tinha uns que lugrava ele, eu sei porque o<br />

caderno ficava comigo, nom? ...Sabe por quê? Porque arguns queria ficar com o dinhero tudo<br />

da madera, aí vendia pra utro patrão no dinhero, ou quondo nom às vez pegava dinhero,<br />

mercadoria, dizendo que ia derribar pau quando acaba ia era pra festa, pra cidade, gastá tudo<br />

e num tirava nada, ai ficava devendo sem fazer nenhum selviço, podendo fazer o contrario! né<br />

seu home? Isso num entra na minha cabeça!<br />

O relato acima, além de mostrar alguns exemplos de artifícios renovados de<br />

adiantamentos e financiamentos diversos (“ajudava muita gente com dinheiro, com passage<br />

pra cidade, madera, prego pra casa, de tudo o que o freguês tivesse percisando”), revela<br />

também nas entrelinhas a dificuldade de cooperação dentro da organização por conta de alguns<br />

fregueses que se desviavam das regras existentes, invariavelmente movidos por interesses<br />

individuais em detrimento aos da organização (“... arguns queria ficar com o dinhero tudo da<br />

madera aí vendia pra utro patrão no dinhero ou muitas vez pegava dinhero, mercadoria<br />

dizendo que ia deribar pau quando acaba ia era pra festa, pra cidade, gasta tudo e nun tirava<br />

nada”). No entanto, a busca pelo interesse individual era mais evidente na posição e conduta<br />

do patrão, como podemos perceber no relato seguinte.<br />

Informante 17: “ Tá celto que um dipindia do utro, mas eu acho que o patrão dipindia<br />

mais do freguês, olhe se num fusse nos cumu ile ia se virá? Era nos trabalhadú que asustentava<br />

ile. ...ile tinha as iscuisas, mas pra que adianta intão o sinhú ter um casco e num ter remo?<br />

Num sai do lugar, né? Nos era o remo dile, era nos que levava pra frente. ...tudo que é patrão<br />

adula seu freguês, pra que’ele teja ali, sempre no selviço pre’ele... O freguês só faz pra cumê e<br />

vesti, e má-la-má [com dificuldade], e o patrão só ganhando nas costas do trabalhadú dile.<br />

Pode vê, o patrão cumpra barco, cumpra casa na cidade, coloca os filho pra sabê lê, sabê<br />

escrevê, e os freguês pode? Num pode meu filho! Quem dera! ...eu acho que era por isso que<br />

45

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!