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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ André Luiz Torquato ...

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por conta da pesquisa que, no ano de 1978, o patrão do antigo ‘Seringal Cruzeiro’, à frente de<br />

uma bem elaborada organização de trabalho, a transpôs integralmente da extração de borracha<br />

para a extração de madeira, aparentemente sem nenhum atrito imediato com seus fregueses.<br />

Esta organização, assim como algumas relações sociais nela existentes, foram transpostas de<br />

forma gradual, com a simples substituição do foco extrativista da borracha para o da madeira.<br />

Sabe-se também que nesta organização, assim como em outras de localidades que passaram por<br />

essa transposição, patrões e fregueses encaravam seu relacionamento comercial como um<br />

negócio coletivo, ou seja, ambos ao ajudar um ao outro contribuíam para o desenvolvimento e a<br />

harmonia do grupo. Como se tratava de uma relação, em sua maioria, marcada pela prática do<br />

sistema de aviamento e suas variações, nas quais havia um forte sentimento de pertencimento<br />

ao grupo, o trabalho e a observância das regras eram entendidos como essenciais à<br />

sobrevivência e ao bem estar comum. A lógica era a seguinte: quanto mais o patrão acumular<br />

bens, mais pode satisfazer, na mesma proporção, os desejos e necessidades dos seus fregueses.<br />

Por muito tempo, essa lógica se caracterizou como uma dádiva oferecida pelo patrão aos<br />

seus fregueses; dádiva de oportunidades de emprego e renda que “somente ele” poderia lhes dar<br />

naquela remota localidade. Porém nisso, pouca coisa havia de bondade por parte do patrão, pois<br />

as necessidades de consumo e a potencial mão-de-obra dos fregueses alocados em suas terras<br />

lhes eram igualmente às únicas oportunidades de comercialização e força de trabalho presentes<br />

na mesma remota localidade. Desta forma, os dois se tornavam igualmente imprescindíveis e<br />

valiosos à sobrevivência um do outro.<br />

A pesquisa mostrou ainda, que essa dádiva se desenvolvia numa espécie de<br />

“reciprocidade condicionada”, ou seja, por intermédio de determinadas condições, onde o<br />

patrão e seus fregueses, de acordo com suas especificidades funcionais dentro da organização,<br />

só davam se tivessem certa margem de certeza de que iam receber satisfatoriamente algo em<br />

troca. Sendo assim, em determinados momentos em que não havia essa certeza,<br />

invariavelmente a fragilidade da harmonia do grupo era evidenciada por meio de trapaças,<br />

desvios, negativas e outras formas de represálias envolvendo o comércio entre os dois. O que<br />

não significava o fim da relação, nem o total esgotamento de valores humanos presentes no<br />

grupo, mas sim a criação de artifícios possíveis de amenizar ou potencializar expectativas de<br />

vantagens provenientes do aviamento e suas variações que foram bastante duradouras e<br />

persistentes na exploração e no beneficiamento da madeira na organização.<br />

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