Dissertacao Rita de Cassia Dramas e Tramas do - Área Restrita ...
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juntamente com a cultura 8 , sobretu<strong>do</strong> na forma <strong>de</strong> concepções, idéias e crenças internalizadas<br />
e a ação partilhada com outros, <strong>de</strong>terminam essas transformações. Nesse senti<strong>do</strong>, Vygotsky<br />
afirma que “nos tornamos nós mesmos através <strong>do</strong>s outros” (i<strong>de</strong>m, p. 56) e que “eu sou uma<br />
relação social <strong>de</strong> mim comigo mesmo” (i<strong>de</strong>m, p. 57). A importância <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> outro, como<br />
fundamental na constituição <strong>do</strong> sujeito, é enfatizada por Vygotsky no Manuscrito <strong>de</strong> 1929 9 .<br />
É através <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> interação com o seu meio social que as características <strong>do</strong><br />
funcionamento psicológico, bem como o comportamento <strong>de</strong> cada ser humano, são construídas<br />
e a cultura é apropriada. Sen<strong>do</strong> assim, a internalização envolve a reconstrução da ativida<strong>de</strong><br />
psicológica ten<strong>do</strong> como base as operações com signos. Os signos externos transformam-se em<br />
signos internos, crian<strong>do</strong> novas formas <strong>de</strong> processos psicológicos enraiza<strong>do</strong>s na cultura.<br />
Essa compreensão implica em apontar, na teoria <strong>de</strong> Vygotsky, a concepção sobre a<br />
transformação das funções interpsicológicas em funções intrapsicológicas, idéias estas que se<br />
encontram na base <strong>de</strong> uma nova proposta teórica <strong>de</strong> relações entre as interações sociais e as<br />
construções cognitivas. Para Vygotsky (1988), o processo <strong>de</strong> internalização, que correspon<strong>de</strong><br />
à própria formação da consciência, é também um processo <strong>de</strong> constituição da subjetivida<strong>de</strong> a<br />
partir das situações <strong>de</strong> intersubjetivida<strong>de</strong>. A passagem <strong>do</strong> nível interpsicológico para o nível<br />
intrapsicológico envolve, assim, relações interpessoais <strong>de</strong>nsas, mediadas simbolicamente.<br />
A tese <strong>de</strong> Vygotsky <strong>de</strong> que as funções mentais superiores são relações sociais<br />
internalizadas, ancora-se no fato <strong>do</strong> funcionamento mental se dá à medida que os sujeitos são<br />
afeta<strong>do</strong>s por signos e senti<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s nas relações com os outros. Desse mo<strong>do</strong>, as ações<br />
8 A cultura para Vygotsky é parte constitutiva da natureza humana, pois a formação das características psicológicas<br />
individuais se dá através da internalização <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s e ativida<strong>de</strong>s psíquicas historicamente <strong>de</strong>terminadas e também<br />
culturalmente organizadas. É importante salientar que a cultura não é pensada por Vygotsky “como algo pronto”, mas como<br />
uma espécie <strong>de</strong> “palco <strong>de</strong> negociações”, em que seus membros estão num constante movimento <strong>de</strong> recriação e interpretação<br />
<strong>de</strong> informações, conceitos e significa<strong>do</strong>s. A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos <strong>de</strong> representação da<br />
realida<strong>de</strong>, ou seja, o universo <strong>de</strong> significações que permite construir a interpretação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real. Ao <strong>de</strong>marcar uma certa<br />
maneira <strong>de</strong> ver, <strong>de</strong> sentir, <strong>de</strong> perceber, <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> interpretar e significar o mun<strong>do</strong>, a cultura <strong>de</strong>fine uma certa<br />
maneira <strong>de</strong> ser e agir, um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, instauran<strong>do</strong> a diversida<strong>de</strong> cultural (OLIVEIRA, 1993).<br />
9 No Manuscrito <strong>de</strong> 1929, Vygotsky caracteriza o Homo Duplex como aquele que tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>brar pelo<br />
signo (eu/mim, eu/outro) e pela linguagem, controlar e ser controla<strong>do</strong>, experiencian<strong>do</strong> o drama das relações interpessoais; por<br />
isso busca compreen<strong>de</strong>r o funcionamento <strong>do</strong> signo na ativida<strong>de</strong> mental, na formação <strong>do</strong> que ele chama personalida<strong>de</strong><br />
(VYGOTSKY, 2000).<br />
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