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Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas

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Boubacar Barry <strong>Senegâmbia</strong>: o desafío <strong>da</strong> história regional 13<br />

Eu tive o privilégio de participar <strong>da</strong>s duas defesas de tese. É<br />

evidente que Abel Sy, por sua origem Sebbe, tinha um olhar mais<br />

interno, mais simpático, em relação a essa gesta, que ele tinha<br />

interiorizado. Mais que isso, vindo para a defesa com a irmã,<br />

juntos eles cantaram com inegável encanto a gesta de Samba<br />

Gelaajo Jeegi na pura tradição do território. Por outro lado, em<br />

Amadou Ly, que pertencia à classe de Torodo, que desapropriou<br />

os Denyanke, o olhar era mais frio, mais crítico e ele tendia,<br />

involuntariamente, a justificar a revolução muçulmana. 9<br />

Mas isso em na<strong>da</strong> refuta o fato de que essa tradição de Samba<br />

Gelaajo Jeegi continua viva em Fuuta, apesar do sucesso <strong>da</strong><br />

revolução muçulmana. Isso é tão ver<strong>da</strong>deiro que o célebre cantor<br />

futanké Baaba Maal canta tanto as proezas de Samba Gelaajo Jeegi,<br />

o ceddo, como louvores a Thierno Saïdu Nur Tall, descendente<br />

d’El Hadj Umar. A simbiose <strong>da</strong>s memórias coletivas revela uma<br />

aceitação tácita do passado pelos Fuutanké enquanto que em<br />

outras partes se assiste a um silêncio quanto aos acontecimentos<br />

anteriores à revolução muçulmana como em Fuuta Djallon.<br />

Em todo caso, as tradições muçulmanas tendem a ocultar o<br />

passado pagão e a ligar os líderes muçulmanos fun<strong>da</strong>dores de<br />

teocracias muçulmanas dos séculos XVII-XVIII e XIX a ancestrais<br />

muçulmanos próximos dos companheiros do Profeta. Esse encaixe<br />

cronológico é freqüente quando não se tenta fazer a tradição com<br />

os muçulmanos, aqueles pais fun<strong>da</strong>dores como Sundjata ou<br />

Ndiadyan Ndiaye, num momento em que o Islão não constituía<br />

absolutamente o fun<strong>da</strong>mento do poder em vigor. Mas o fenômeno<br />

mais importante, sem dúvi<strong>da</strong> alguma, é a fixação dessas tradições<br />

orais, na ver<strong>da</strong>de, a passagem <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de à escrita.<br />

A FIXAÇÃO DAS TRADIÇÕES ORAIS<br />

A passagem <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de à escrita se fez bem cedo pelo menos na<br />

escrita <strong>da</strong> história em árabe ou em pular, em wolof ou mandinga,<br />

pelos letrados muçulmanos. Os mais antigos são, sem dúvi<strong>da</strong><br />

alguma, o Tarikh Es Su<strong>da</strong>n e o Tarikh El Fettach, escritos no<br />

9 Sy, Abel, A., 1979-1980, La Geste Tiedo, Tese de 3º ciclo, Facul<strong>da</strong>de de<br />

Letras, Dacar, 676 páginas.

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