Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
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Boubacar Barry <strong>Senegâmbia</strong>: o desafío <strong>da</strong> história regional 23<br />
negras, por ele organizado para celebrar a negritude, como o<br />
intelectual africano que mais teria marcado sua geração. De fato,<br />
o paradoxo de Cheikh Anta Diop é que privilegiou o debate<br />
intelectual pela uni<strong>da</strong>de, a libertação total do continente e a<br />
reabilitação <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de africana e se fechou numa oposição<br />
política nos limites estreitos do Estado-nação do Senegal, em<br />
contradição com seu projeto federal. De modo que, apesar de sua<br />
ação decisiva na elaboração de uma história africana pelos<br />
africanos, sua influência direta sobre o desenvolvimento dos<br />
estudos nesse terreno foi limita<strong>da</strong>. 19<br />
O mesmo acontece com o segundo grande historiador,<br />
Abdoulaye Ly, que escreveu a primeira tese sobre a história do<br />
Senegal, publica<strong>da</strong> em 1958. Ele estu<strong>da</strong> a conexão capitalista dos<br />
continentes pelo Atlântico nos séculos XVII e XVIII. Interessa-se<br />
em particular pelo papel desempenhado pela <strong>Senegâmbia</strong> nessa<br />
conexão. O historiador de profissão, em razão de seu engajamento<br />
direto na política, não teve tempo de aprofun<strong>da</strong>r o estudo interno<br />
<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des senegambianas fora dos escritos políticos, como O<br />
Estado e a condição camponesa, para justificar a ruptura com a<br />
economia colonial. Como Cheikh Anta Diop, é adepto <strong>da</strong> independência<br />
imediata e do rompimento com o sistema colonial. É isso o<br />
que explica a ruptura com Senghor depois do voto pelo sim, mesmo<br />
tendo voltado ao governo por alguns anos, entre 1965 e 1970. Como<br />
Cheikh Anta Diop, por causa <strong>da</strong> política, Abdoulaye Ly não ensinou<br />
história à nova geração dos historiadores <strong>da</strong>s independências, que<br />
foram encontrar os pais fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> escola de Dacar fora do<br />
campus, pelo viés <strong>da</strong> luta política. 20<br />
19 Na época, Cheikh Anta Diop é célebre sobretudo por ter publicado, sucessivamente,<br />
Nations nègres et cultures, Paris, Présence Africaine, 1954; L’Unité<br />
culturelle de l’Afrique noire, Paris, Présence Africaine, 1959 e L’Afrique noire<br />
précoloniale, Paris, Présence Africaine, 1960.<br />
20 Sua obra mais célebre <strong>da</strong> época é La Compagnie du Sénégal, Présence<br />
Africaine, 1958. Trinta anos depois, na reedição dessa obra básica, Abdoulaye<br />
Ly, num longo posfácio, faz a ponte entre suas hipóteses de trabalho sobre a<br />
história e os resultados <strong>da</strong>s pesquisas <strong>da</strong> escola de Dacar. Seus escritos sobre a<br />
história contemporânea depois do afastamento <strong>da</strong> política e do IFAN são a<br />
prova <strong>da</strong> visão histórica do Senegal desse Grande Historiador, firme entre o<br />
movimento nacionalista e a luta patriótica contra o neo-colonialismo.