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Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas

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Boubacar Barry <strong>Senegâmbia</strong>: o desafío <strong>da</strong> história regional 9<br />

Manden. Com efeito, é comum na narrativa histórica mandinga se<br />

fazer constantemente referência à len<strong>da</strong> e até mesmo ao mito<br />

como elemento de legitimação ou autentificação de uma situação,<br />

de uma formação ou de explicação de um evento.<br />

Assim, Sundjata Keita, fun<strong>da</strong>dor do império de Mali, ocupa<br />

um lugar excepcional. Nascimento milagroso, infância difícil,<br />

exílio distante e reino feito de grandeza e de esplendor. Nessa<br />

narrativa, a len<strong>da</strong> o disputa com a epopéia e a história. Sundjata<br />

aí aparece como sendo o libertador de Manden, o imperador que<br />

realiza o programa inicial de seu rival Suma Woro: a abolição <strong>da</strong><br />

escravidão e do tráfico nos seus Estados; o chefe político que<br />

tornou seu país confiável, o patriota ardoroso que abre Manden ao<br />

progresso, em suma, o herói por excelência, Simbo, cuja memória<br />

permanece surpreendentemente viva no espírito dos Malinkés e<br />

que permanece para todos a figura mais ilustre <strong>da</strong> história<br />

medieval <strong>da</strong> África Ocidental.<br />

Mas o homem que detém tanto saber está consciente de seus<br />

limites quando diz: “não é todo dia que o homem domina seu ser<br />

íntimo e sua ciência. Quando estou feliz e quando sinto que aqueles<br />

que me ouvem estão atentos, portanto interessados, volto a ser eu<br />

mesmo: então encho todo recipiente em que possam me colocar.” 5<br />

Como no caso de Chaka, a epopéia de Sundjata é o que une<br />

o homem ao poder <strong>da</strong> magia, que deixa entrever a face dos deuses<br />

por trás <strong>da</strong> marca dos homens. É também a epopéia de um herói<br />

que simboliza o povo ao nascer e seu destino até a morte. A beleza<br />

dessa linguagem vem antes de tudo dessa união com a beleza <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> quando tudo é começo, nascimento. 6<br />

O primeiro comentário a respeito dessa trajetória <strong>da</strong> tradição<br />

oral é a importância atribuí<strong>da</strong> ao mito fun<strong>da</strong>dor dos reinos. Sundjata,<br />

assim como Chaka para os zulus, ocupa um lugar privilegiado e não<br />

tem ain<strong>da</strong> rival nas tradições orais mandingas. O mesmo acontece<br />

com Ndiadyan Ndiaye <strong>da</strong> Confederação do Jolof para os Wolofs,<br />

com Koly Tenguela de Fuuta Toro para os Tuculeurs. Mesmo<br />

quando imitadores iniciaram ações de grande envergadura, a<br />

tradição tenta relacioná-los com o pai fun<strong>da</strong>dor. É o caso de<br />

5 Yussuf Tata Cissé, Wa Kamissoko, 1988, La grande geste du Mali, des<br />

origines à la fon<strong>da</strong>tion de l’Empire, Paris, Karthala, pp. 1-36.<br />

6 Thomas Mofolo, Chaka.

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