Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
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Boubacar Barry <strong>Senegâmbia</strong>: o desafío <strong>da</strong> história regional 17<br />
africanas como senegambianas será dominado pela Etnologia<br />
colonial centra<strong>da</strong> numa visão estática <strong>da</strong> <strong>História</strong>. Os historiadores<br />
de ofício só farão sua aparição tardiamente, com o movimento<br />
nacionalista. Mas durante todo o decorrer do período colonial, a<br />
história vai servir de recurso às elites tanto tradicionais quanto<br />
coloniais para reivindicar ou negociar privilégios relativos ao<br />
poder colonial, que impõe sua nova legitimi<strong>da</strong>de à gestão dos<br />
homens e recursos do país.<br />
Yoro Diaw é sem dúvi<strong>da</strong> nenhuma o primeiro a tentar recolher<br />
as tradições orais dos reinos wolof utilizando um quadro cronológico<br />
com <strong>da</strong>tas precisas pelo fato de se ter formado na escola dos reféns.<br />
Mas esses cadernos perdidos para sempre foram publicados por<br />
Rousseau em 1929 e 1933, criando assim uma cadeia de transmissão<br />
por escrito <strong>da</strong>s tradições orais wolof que vinha desde a<br />
publicação no Moniteur du Sénégal em 1863 até os Esquisses<br />
sénégalaises em 1966 sucessivamente por Azan, Gaden, Rousseau<br />
e Monteil. Esses autores utilizaram os cadernos de Yoro Diaw que<br />
toma suas informações do pai, o Brak Fara Pen<strong>da</strong>, interrogado por<br />
Azan em 1863 e transmitiu seus conhecimentos a Amadu Wade,<br />
que ditou ele próprio sua crônica a Bassiru Cissé, bibliotecário no<br />
IFAN em 1941, antes <strong>da</strong> publicação em 1966 por Vincent Monteil.<br />
O que fica evidente nesse caso é a existência de uma cadeia<br />
de transmissão e a preocupação de fixar por escrito essa tradição<br />
domina<strong>da</strong> pela narrativa dos fatos marcantes para ca<strong>da</strong> reino, além<br />
de uma preocupação incomum com <strong>da</strong>r um quadro cronológico<br />
aos acontecimentos. Do ponto de vista metodológico, já chamamos<br />
a atenção para todos os problemas colocados pelos limites dessa<br />
cronologia, a partir <strong>da</strong> duração dos reinados e <strong>da</strong>s listas dinásticas,<br />
ao mesmo tempo que para os riscos de empobrecimento dessa<br />
tradição reescrita por outros a partir de anotações dos autores.<br />
Mas, o que é importante assinalar é a tendência louvável à fixação<br />
dessa tradição oral com riscos de deformação. Com efeito, os<br />
autores muitas vezes tomam emprestado <strong>da</strong>s fontes escritas a seu<br />
alcance, enquanto editores como Rousseau introduzem outras<br />
informações para completar ou esclarecer os cadernos de Yoro Diaw<br />
para o leitor ocidental. Assim, Yoro Diaw constitui privilégios para<br />
melhor negociar com o poder colonial. E Rawane Boye, descendente