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Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas

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Boubacar Barry <strong>Senegâmbia</strong>: o desafío <strong>da</strong> história regional 15<br />

De fato, a conquista colonial no fim do século XIX constitui<br />

uma ruptura maior com essa forma de expressão histórica veicula<strong>da</strong><br />

pelas tradições orais e os tarikhs, que serão colocados entre<br />

parênteses pela escola colonial e a negação <strong>da</strong> historici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des africanas. Uma socie<strong>da</strong>de em duas veloci<strong>da</strong>des vai<br />

operar uma linha de divisão entre uma elite tradicional, que preza<br />

seu saber antigo, e uma elite colonial, obriga<strong>da</strong> a aprender na<br />

escola a história dos vencedores para melhor desprezar o próprio<br />

passado. Essa vontade de exclusão <strong>da</strong> história <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong><br />

população marginaliza<strong>da</strong> pela escola colonial constitui um dos<br />

fun<strong>da</strong>mentos ideológicos do sistema de dominação. Mas não se<br />

pode absolutamente excluir um povo <strong>da</strong> história nem impedi-lo de<br />

viver sua história e, conseqüentemente, de contá-la a si mesmo,<br />

por tê-la vivido na própria carne.<br />

Desde o início, Faidherbe, o artesão <strong>da</strong> conquista <strong>da</strong> colônia<br />

do Senegal, se interessou, devido às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> causa, pelas<br />

tradições orais e pela cultura <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des senegambianas. É o<br />

começo, como diz Mamadou Diouf, do africanismo; a metamorfose<br />

pela escrita e a influência islâmica conseguiram assim<br />

circunscrever uma memorável historiografia específica <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de colonial em construção, solicitando para isso o passado<br />

europeu e o passado senegambiano. A criação <strong>da</strong> escola de reféns<br />

em 1857 para ganhar os “filhos de chefes” para a obra francesa<br />

vai permitir a Yoro Diaw publicar, dessa vez em francês, as<br />

primeiras narrativas de tradição oral em wolof no jornal Moniteur<br />

du Sénégal. 10 Assiste-se então à proliferação de textos de origem<br />

africana pelas antigas elites assim como pelas novas elites<br />

forma<strong>da</strong>s na escola colonial. Gaden, Delafosse e Gilbert Vieillard<br />

desempenham um papel fun<strong>da</strong>mental na coleta e publicação de<br />

textos orais ou escritos em língua africana ou em árabe.<br />

Em 1913, Delafosse publica Chroniques du Fouta sénégalais<br />

traduzi<strong>da</strong>s de dois manuscritos árabes inéditos de Siré Abbas-Soh,<br />

que relembrava as lembranças que tinha guar<strong>da</strong>do <strong>da</strong> leitura de<br />

uma obra escrita há um século por um certo de Tafsiru Bogguel<br />

Ahmadu Samba. Siré Abbas Soh, célebre por seu conhecimento<br />

10 Diouf, M., 1989, “Représentations historiques et legitimités politiques au<br />

Sénégal, 1960-1987”, Revue de la bibliothèque nationale, V. 34, Paris, p. 14.

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