Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Boubacar Barry <strong>Senegâmbia</strong>: o desafío <strong>da</strong> história regional 21<br />
religiosa também em relação à administração colonial, assim como<br />
à chefia herdeira de uma aristocracia que foi desfeita pela França<br />
no final do século XIX. 17<br />
Em 1948, o rompimento entre Lamine Guèye e Leopold Se<strong>da</strong>r<br />
Senghor dá nascimento ao BDS (Bloco <strong>da</strong>s massas senegalesas)<br />
que vai se apoiar nas redes de marabus do mundo rural. Senghor<br />
inventa a Negritude para restaurar os valores do mundo negro e<br />
renová-los, associando-os aos valores franceses. Assim, o triângulo<br />
ideológico senghoriano-negritude, francofonia e socialismo africano<br />
se edifica, com uma dupla memória, a de Faidherbe como criador<br />
desse Senegal moderno, tendo a seu lado, o pólo tradicional, Lat-<br />
Joor. Mas a negritude privilegia a etnologia em detrimento <strong>da</strong><br />
história, com o objetivo de criar uma identi<strong>da</strong>de africana, até mesmo<br />
senegalesa, diferente <strong>da</strong>quela do Ocidente. Isso não impede Senghor<br />
de ser partidário <strong>da</strong> mestiçagem que é, para ele, o melhor meio de<br />
se chegar à civilização do universal.<br />
A palavra do griô ou a narrativa <strong>da</strong>s tradições orais são vistas<br />
sob o ângulo de seus ritmos poéticos, <strong>da</strong>í a importância atribuí<strong>da</strong><br />
por Senghor à poesia, à literatura, ao teatro e à arte. Quando se<br />
apela para a história, é para escolher Lat-Joor como herói nacional<br />
que encarna as tradições e valores aristocráticos de digni<strong>da</strong>de e<br />
sacrifício como fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> ideologia nacional do Senegal<br />
independente e do partido único. Para a Negritude, as tradições<br />
orais são episódios que devem servir para reforçar o sentimento<br />
de uni<strong>da</strong>de nacional. Considera<strong>da</strong>s antes de tudo como crônicas e<br />
len<strong>da</strong>s, sua escrita e valor literário predominam sobre o conteúdo,<br />
na ver<strong>da</strong>de, sobre a história <strong>da</strong> África, que é coloca<strong>da</strong> entre<br />
parênteses por Senghor durante todo o seu regime.<br />
À parte a pré-história – que é privilegia<strong>da</strong> – são as matemáticas<br />
e a filosofia, com o ensino do latim, que constituem, para<br />
Senghor, as disciplinas por excelência. Ele se dedica, no entanto,<br />
à salvaguar<strong>da</strong> dos arquivos coloniais do Senegal e <strong>da</strong> AOF, únicos<br />
preservados em todo o império colonial francês. A exposição dos<br />
arquivos, 300 anos de história escrita do Senegal, na ocasião do<br />
primeiro aniversário <strong>da</strong> independência, indica a preferência do novo<br />
17 Diouf, Mamadou, 1989, pp. 14-15.