Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
Senegâmbia: O Desafío da História Regional - Casa das Áfricas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Boubacar Barry <strong>Senegâmbia</strong>: o desafío <strong>da</strong> história regional 43<br />
Senghor criou o Centre d´Etudes des Civilisations (Centro<br />
para o Estudo de Civilizações) em Dakar, com uma revista chama<strong>da</strong><br />
Dembe Ak Tev, um periódico com enfoque sobre mitos e desenha<strong>da</strong><br />
para coletar, transcrever e preservar tradições orais como uma<br />
forma de assegurar o predomínio <strong>da</strong> escrita sobre a transmissão<br />
oral. Naquela época, significantemente, a maioria dos opositores<br />
políticos de Senghor e <strong>da</strong> ideologia de Negritude eram historiadores<br />
profissionais, exceto Majmout Diop, que, incidentalmente, escreveu<br />
um ensaio sobre a história <strong>da</strong>s classes sociais no Senegal e Mali.<br />
Eles incluíam Cheikh Anta Diop, Abdoulaye Ly, Moctar Mbow e<br />
Assane Seck nos primeiros anos de independência.<br />
Em seu livro “Nations Nègres et Cultures” (Nações Negras<br />
e Culturas), publicado em 1955, Cheikh Anta Diop foi o primeiro<br />
a basear sua ação política no reconhecimento <strong>da</strong> história <strong>da</strong> África,<br />
que remonta às origens <strong>da</strong> civilização – uma vez que Egito era<br />
negro. Ele queria restaurar a auto-confiança dos africanos. A<br />
reconstrução <strong>da</strong> história africana abriu a África para o conceito<br />
universal do Faraó e o argumento <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de<br />
cultural africana do seu pan-africanismo e abor<strong>da</strong>gem federalista.<br />
Sua preferência pela África pré-colonial contrastou com a preferência<br />
de Senghor pelo período colonial. Mas, assim como<br />
Senghor, Cheikh Anta Diop desconsiderou as tradições orais e as<br />
monografias que não se encaixavam no esquema do egito-faraônico<br />
e, portanto, <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de cultural do continente. A África, assim,<br />
ganhou um firme alicerce na história, e Cheikh Anta Diop colocou<br />
a ênfase na continui<strong>da</strong>de de sua história, por isso ele destacou as<br />
similari<strong>da</strong>des entre as instituições <strong>da</strong> África pré-colonial e as do<br />
Egito antigo.<br />
Em contraste com as idéias de Negritude e com o mundo de<br />
língua francesa, ele designou um papel chave para as línguas africanas<br />
na aquisição <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de. Isso torna fácil entender a<br />
irreconciliável oposição política entre esses dois homens, a excomunhão<br />
de facto de Cheikh Anta Diop <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de francesa e<br />
o fato de que ele foi silenciado na Universi<strong>da</strong>de de Dakar to<strong>da</strong> a sua<br />
vi<strong>da</strong>. Mas no fim Senghor evitou um confronto cultural com Cheikh<br />
Anta Diop, que foi proclamado pelo Festival de Artes Negras,<br />
organizado por Senghor em 1966 para celebrar a Negritude, como