Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...
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Era tempo <strong>de</strong> passar a coisas práticas, Arnaldo passou: “Afinal o que é que<br />
vamos gamar? Convinha-me uma coisa em bom para <strong>de</strong>pois meter férias.”<br />
Calma, calma, Renato sem pressa, esperem aí, já lá vamos, Flávio a meter-<br />
se e a engordar a curiosida<strong>de</strong> geral: “Férias? Até dava para te reformares e viver<br />
à gran<strong>de</strong>! “<br />
Tão doce perspectiva estimulou Pedro Justiceiro a reencher os copos -<br />
“seja o que for, um brin<strong>de</strong> pelo êxito da operação! “ -, calaram-se solenes e<br />
beberam, <strong>de</strong> uma só golada, até ao fim dos copos, até ao fundo da esperança,<br />
irmãos na aventura do crime e nos pavores escondidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada um.<br />
Não vai ser fácil”, preveniu o Doutor, mas continuou fechado em copas, só<br />
acrescentou que valia a pena tentar, se falhassem paciência, os insucessos<br />
faziam parte do jogo, jogadores que eram.<br />
Daí se partiu para falarem <strong>de</strong> fracassos vários, próprios e alheios, Arnaldo<br />
Figurante garantiu que, chato, chato, fora o que lhe acontecera “há uns cinco<br />
anos, vocês sabem o que é sacar um balúrdio, já tudo arrecadado e <strong>de</strong>pois ter<br />
que <strong>de</strong>volver - assim: toma lá - com cara <strong>de</strong> parvo?”<br />
Ninguém entendia como fora isso possível.<br />
“Nessa altura andava eu com o Teófilo Careca, o Val<strong>de</strong>mar Jazebandista e<br />
o António Pezinhos, coitado, já morreu, Deus lhe tenha a alma em <strong>de</strong>scanso.<br />
Apanhou um tiro no nó da gravata, não sei se estão lembrados daquela noite na<br />
Rua das Taipas, só pistolas eram mais que as mães, tudo a fazer lume, já nem se<br />
sabia quem disparava contra quem, puxavam-se gatilhos como quem puxa<br />
fumaças. Mas o Pezinhos é que marou. Era um pacholas formidável, só tinha<br />
amigos, vocês não eram da sua lidação, se fossem também estariam no funeral,<br />
um funeral gran<strong>de</strong>. Houve menino que assaltou loja <strong>de</strong> florista para levar rosas<br />
e cravos, flores era mato, o caixão todo tapado, parecia um canteiro <strong>de</strong> jardim. E<br />
malta à brava, na afinação, <strong>de</strong> gravata preta, alguns <strong>de</strong> fato completo, alugado<br />
ou do casamento. Tipos a chorar como Madalenas, até dava dó, outros aos<br />
gritos querendo saber quem <strong>de</strong>ra o tiro que arrefeceu o nosso querido amigo.<br />
Nunca se apurou. E só por isso é que não houve outro enterro, ai era limpinho,<br />
fatal como o <strong>de</strong>stino. Mas também foi uma gran<strong>de</strong> sorte os chuis não se<br />
lembrarem <strong>de</strong> aparecer, olha, havia <strong>de</strong> ser lindo, estava a fina flor - não<br />
<strong>de</strong>sfazendo em vocês -, até malucos que se tinham pisgado da prisa se<br />
apresentaram lá, a dar as <strong>de</strong>spedidas ao Pezinhos.