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Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...

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De pé, braços abertos em cruz, Silvino <strong>de</strong>u conta do seu pasmo - “um<br />

museu? A gente num museu?...” -, <strong>de</strong>pois arrancou o palito a Marlene e<br />

começou a mordê-lo, até que o mastigou e engoliu. “Fui eu que ouvi mal.<br />

Aposto que vocês falaram <strong>de</strong> outra coisa, não o que eu percebi”, disse Pedro,<br />

muito baixinho. “Ou então estão mal informados, porque nisso da Gulbenkian<br />

não há hipótese. Nenhuma hipótese. Perguntem ai aos gajos mais batidos, que<br />

topam as paradas todas, e eles dizem logo que tenham mas é juízo, aquilo é à<br />

prova <strong>de</strong> assalto, tem uma vigilância do escafandro, alarmes por tudo quanto é<br />

sítio, até há câmaras <strong>de</strong> filmar escondidas nas pilinhas das estátuas. Foi o que<br />

ouvi dizer...”<br />

O que se ouviu nesse momento foi um gran<strong>de</strong> grito <strong>de</strong> dor soltado por<br />

Arnaldo Figurante, e tinha toda a razão: tão apalermado estava que trocou as<br />

pontas ao cigarro, meteu o lado aceso na boca e chupou, só quem alguma vez<br />

passou por isso sabe como dói, doeu-lhe ao nível do pinote, <strong>de</strong>u três ágeis<br />

pinotes pela sala, “porra, que me queimei! “, Marlene correu à cozinha e trouxe<br />

margarina para untar, untou-o, Arnaldo praguejava com a boca barrada <strong>de</strong><br />

margarina, “tudo por causa <strong>de</strong>ssa história <strong>de</strong> malucos! Museu Gulbenkian! Até<br />

o nome custa a dizer! “, rebolou-se na carpeta, A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> foi abraçar-se a ele,<br />

“coitadinho, ai, coitadinho”, ficaram ainda mais indignados com o plano<br />

insensato que já tinha feito uma vítima, Arnaldo Figurante, prezado consócio.<br />

Em súbita recuperação, a vítima limpou a boca à gravata ver<strong>de</strong>-alface e fez<br />

um solene discurso pautado por duas i<strong>de</strong>ias mestras: Renato e Flávio já não<br />

regulavam dos miolos e quanto a irem ao museu, o tanas!<br />

Ouviram-se brados <strong>de</strong> “muito bem! “ e “apoiado! “ e passaram a falar<br />

todos ao mesmo tempo, uma agitação, “porque é que não vai lá o sacana do<br />

italiano?”, perguntava-se, “ou o francês, o gordo?”, alguém sugeriu que na<br />

mesma volta passassem pelo Banco <strong>de</strong> Portugal, já agora, <strong>de</strong> uma cajadada,<br />

Silvino achou que isso é que seria porreiro, porreiríssimo, Arnaldo<br />

<strong>de</strong>smanchou-se em gargalhadas atirando perdigotos <strong>de</strong> margarina, “já me<br />

cagaste a camisa”, protestou Pedro, e A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, perdida <strong>de</strong> riso, anunciou que<br />

estava em risco <strong>de</strong> se urinar.<br />

Com um gran<strong>de</strong> murro na mesa restabeleceu o chefe a or<strong>de</strong>m e a<br />

hierarquia. Ia usar da palavra. Usou, dizendo que se não quisessem ir,<br />

paciência, não se falava mais no assunto, outros haveria que os tivessem no<br />

sítio. Falaria com o italiano, eh pá, scusa, porca miséria, a minha malta só quer

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