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Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...

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O professor <strong>de</strong> Francês fez um gran<strong>de</strong> escarcéu, a directora <strong>de</strong>cidiu que<br />

não lhe cumpria <strong>de</strong>cidir, assunto da Polícia, a Polícia tomou conta da<br />

ocorrência, o professor <strong>de</strong> Francês jurou que ia continuar com as aulas, a<br />

directora disse que sim senhor, lá por ela, e até à conclusão das investigações, o<br />

professor <strong>de</strong> Matemática lembrou que carta anónima não era prova, só é<br />

infâmia”, acrescentou a professora <strong>de</strong> físico-química, Lourenço, o contínuo,<br />

meteu-se no <strong>de</strong>bate, a porta estar nas hortênsias também não queria dizer<br />

pescoço, qualquer um a po<strong>de</strong>ria ter levado - mas quem, mas quem?,<br />

perguntaram todos -, isso é que Lourenço contínuo não sabia, vá lá uma pessoa<br />

adivinhar.<br />

Voltou o professor <strong>de</strong> Francês, mas já não tinha hipóteses: os tratantes não<br />

largavam, o “sotôr queria ver o quê?”, no corredor, no pátio, na sala, <strong>de</strong>z mil<br />

vezes por dia, “queria ver alguma coisa, sotôr?”, no tableau noir aparecia<br />

escrito la porte, em gran<strong>de</strong>s letras, o professor <strong>de</strong> Francês teve um ataque,<br />

partiu o tableau noir à cacetada, acudiu a directora, o professor <strong>de</strong> Francês<br />

mandou-lhe duas biqueiradas às jambes, <strong>de</strong>pois tirou um tubo <strong>de</strong> comprimidos<br />

da serviette e engoliu-os todos <strong>de</strong> uma vez, levaram-no para o hospital on<strong>de</strong> foi<br />

lavado por <strong>de</strong>ntro, ficou três dias a enxugar, a directora veio <strong>de</strong> visita e coxeava,<br />

o professor <strong>de</strong> Francês chorou, pediu muitas <strong>de</strong>sculpas e a transferência para<br />

não menos <strong>de</strong> duzentos quilómetros <strong>de</strong> distância - no que foi atendido.<br />

Vitória completa <strong>de</strong> Silvino? Efectivamente ficou para sempre impune o<br />

criminoso <strong>de</strong>sterro do professor <strong>de</strong> Francês, mas não tardaria a hora <strong>de</strong> ser ele<br />

próprio <strong>de</strong>sterrado e para mais penoso <strong>de</strong>stino: o colégio interno, com<br />

recomendação expressa <strong>de</strong> ré<strong>de</strong>a curta e, sempre que preciso, tareia à <strong>de</strong>scrição.<br />

I<strong>de</strong>ia do padrinho. I<strong>de</strong>ia e bolsa, pois os pais não tinham posses para<br />

cavalarias <strong>de</strong>ssas. Alonso Gutierrez, apertado por queixas constantes, sofrendo<br />

das malfeitorias do afilhado e da triste fama que lhe ia crescendo na vila,<br />

enten<strong>de</strong>u por bem o internamento didáctico. Se fosse seu filho, era o que faria, e<br />

ele gostava <strong>de</strong> Silvino como se seu filho fosse.<br />

“ Tem <strong>de</strong> ser. Eu pago. Um colégio interno e em Lisboa! “ Alonso<br />

Gutierrez acreditava em Lisboa como no Divino Espírito Santo, Lisboa tinha<br />

remédio para todos os males, Silvino havia <strong>de</strong> salvar-se da perdição. Conduziu-<br />

o ele próprio na rota da capital e foi <strong>de</strong>positá-lo no colégio, que era velho e feio,<br />

mas tinha um nome prometedor: Preparando o Futuro.

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