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Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...

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salpicões, os eteceteras - já se percebeu, não se fala mais no assunto. Nem se<br />

falará <strong>de</strong> muitos outros cometimentos do prometedor malandro, um susto <strong>de</strong><br />

todas as horas, bem o sarrazinava a mãe <strong>de</strong> recomendações e ameaças quando<br />

levava os gémeos nas suas visitas a parentes e amigos. Pois sim. Quantas vezes,<br />

tomada <strong>de</strong> furor e <strong>de</strong> vergonha, teve <strong>de</strong> <strong>de</strong>volver objectos vários que Silvino,<br />

ardilosa criança, trazia dissimulados no bibe, nos calções, nas peúgas, uma<br />

noite até um anel entre as bochechinhas do rabo.<br />

Como <strong>de</strong> ordinário acontece às crianças, também Silvino tinha um<br />

padrinho, no caso Alonso Gutierrez, espanhol <strong>de</strong> Málaga, trazido para a vila<br />

ainda garoto, e isso porque su madre, espanhola <strong>de</strong> Málaga e viúva em muito<br />

bom estado, se casara com o notário local, o Sr. Dr. Prazeres Morais, homem<br />

folgazão mas <strong>de</strong> respeito, o nome com a pessoa. Alonso não chegaria longe nos<br />

estudos, cedo entrara a comerciar, artigos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira era o negócio, um leque<br />

vasto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> berços e caixões passando por mesas, ca<strong>de</strong>iras e camas <strong>de</strong> casal.<br />

Como acentuava o Sr. Lucas do Rosário, contabilista e presi<strong>de</strong>nte da direcção<br />

do clube <strong>de</strong>sportivo: “Nesta terra, é impossível nascer, viver e morrer sem que o<br />

Alonso Gutierrez ganhe algum! “<br />

Não comungava o padrinho das crescentes preocupações da família<br />

quanto à carreira do petiz. E ria-se, em gargalhadas claras e andaluzas, das<br />

traquinices do afilhado, mira, cofio, aquilo era a sua maneira <strong>de</strong> brincar, o<br />

menino tinha muita vida, gran<strong>de</strong> imaginação, e não encontrara ainda outro<br />

modo <strong>de</strong> expressar tão preciosos dotes. Entonces, que não se afligissem.<br />

Entonces, Silvino entrara para a escola, foi logo uma razia <strong>de</strong> lápis,<br />

borrachas, tabuadas e valores <strong>de</strong> uso pessoal, tais como abafadores, fisgas, bolas<br />

<strong>de</strong> borracha, selos <strong>de</strong> D. Maria I, cromos <strong>de</strong> colecções <strong>de</strong> jogadores <strong>de</strong> futebol,<br />

inclusive os mais custosos, que eram o Bravo, do Estoril, o Correia Dias, do<br />

Porto, o Quaresma, do Belenenses, o Valente Marques, do Atlético, o Jesus<br />

Correia, do Sporting, o Xico Ferreira, do Benfica, e o Patalino, do Elvas.<br />

O padrinho andaluz começou a não achar graça nenhuma. E então<br />

lembrou-se <strong>de</strong> que talvez fosse doença, lera uns artigos sobre cleptomania,<br />

havia <strong>de</strong> ser isso, tinham <strong>de</strong> o levar a um médico, especialista <strong>de</strong> preferência -<br />

bueno, se marcharam, padrinho e afilhado, apontados a Lisboa.<br />

Mau grado a folha <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> Silvino, o especialista não encontrou<br />

sintomas <strong>de</strong> doença, como não encontrou um termómetro, a lapiseira e o bloco<br />

das receitas, logo após o juvenil paciente ter dado lugar a outro.

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