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Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...

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dos pintores, freguês <strong>de</strong> exposições, às vezes na Gulbenkian, agora feitinho para<br />

ir à Gulbenkian e trazer a exposição para casa.<br />

Quem começava a excitar-se era Silvino: “Mas vocês têm algum plano<br />

para abarbatar as jóias <strong>de</strong>sse tal Lalique?”<br />

“Acabou a conversa. Eles têm medo...” Era Marlene ajudando à festa,<br />

Marlene também, mas não admirava, Marlene era Renato com outra voz, o que<br />

ele dissesse ela diria, havia <strong>de</strong> ir on<strong>de</strong> ele fosse, gozar nos mesmos gozos, sofrer<br />

nas mesmas mágoas, morrer no suicídio <strong>de</strong> seu homem. Marlene nem existia,<br />

era só uma parte <strong>de</strong> Renato, a parte fêmea do seu macho, quando uma parte ria<br />

a outra também, ou choravam ambas, sempre juntas, tão juntas como na hora<br />

<strong>de</strong> fazer amor.<br />

“Isso agora, mais <strong>de</strong>vagar. A gente quer é saber as coisas. “ Silvino<br />

passava-se para o lado da aventura, A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> também iria, o Doutor seduzia-a<br />

falando <strong>de</strong> jóias, jóias raras e belas, vinte e duas, talvez pu<strong>de</strong>sse trazer mais<br />

uma para si, a vigésima terceira, uma gargantilha <strong>de</strong> Renê Lalique no pescoço<br />

magro <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> em dia <strong>de</strong> baile ou <strong>de</strong> festa.<br />

Cada vez mais sós, Pedro e Arnaldo foram ce<strong>de</strong>ndo.<br />

Arnaldo Figurante não queria chorar <strong>de</strong> vergonha e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgosto ao ouvir<br />

essa notícia no telejornal - “ espectacular assalto foi hoje levado a cabo na<br />

Fundação Gulbenkian, on<strong>de</strong> audaciosos larápios...” - audaciosos seriam outros,<br />

radiantes da vida, partindo da Praça <strong>de</strong> Espanha carregados <strong>de</strong> Arte Nova, e<br />

ele, Arnaldo, pobre e <strong>de</strong>sonrado para sempre porque tivera cagaço.<br />

Triste ou envergonhado não ficaria Pedro justiceiro, tão-pouco ralado <strong>de</strong><br />

sentir medo quando era caso <strong>de</strong> o ter. Mas não quebraria as juras <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong>, e<br />

se os outros quisessem, se fossem tão estúpidos assim, ele, Pedro, seria estúpido<br />

também, tomaria seu lugar no barco, frágil navio pirata <strong>de</strong>safiando o galeão e<br />

sua artilharia guardiã <strong>de</strong> tesouros inacessíveis, arcas cheias <strong>de</strong> Arte Nova,<br />

Colecção Lalique.<br />

“E armas? Vamos para uma coisa <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong> mãos a abanar?”<br />

“Vamos. Armas, não.”<br />

Estava <strong>de</strong>cidido. Assaltariam a Gulbenkian à mão <strong>de</strong>sarmada, golpe <strong>de</strong><br />

audácia como nunca se vira, nem aqui nem em parte nenhuma. E os audaciosos<br />

<strong>de</strong> que falariam os telejornais seriam eles, Renato e Flávio, Marlene e A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>,<br />

Pedro, Silvino e Arnaldo, quadrilha seleccionada, encontro <strong>de</strong> sete vidas <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> muito tombo e aventura.

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