12.04.2013 Views

Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...

Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...

Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“Para já, senhor subchefe, aqui a miúda não tem nada a ver com o caso.<br />

Ela nem soube que eu guar<strong>de</strong>i esta porcaria. Guar<strong>de</strong>i disse bem. Guar<strong>de</strong>i <strong>de</strong><br />

penhor - <strong>de</strong> penhor, ouviu - porque estes gran<strong>de</strong>s filhos da puta, peço <strong>de</strong>sculpa<br />

senhor subchefe, filhos <strong>de</strong> meretriz, queria eu dizer, serviram-se e não pagaram.<br />

Os gran<strong>de</strong>s vigaristas! Ainda por cima umas tristezas na cama, um frete, um<br />

<strong>de</strong>sconsolo, ai senhor subchefe só queria que visse. Então eu saquei-lhes isto <strong>de</strong><br />

penhor:<br />

têm <strong>de</strong> nos dar os sessenta paus a cada uma, mais os setenta da pensão. Se<br />

quiserem, está claro. Se não quiserem vou direitinha pedir a massa às mulheres<br />

<strong>de</strong>les, já <strong>de</strong>scobri as moradas. Ai queridos, tenham paciência: vou cobrar lá a<br />

casa, eu não dê mais um passo I Ando há vinte e seis anos nesta vida e ainda<br />

não houve um filho da puta, perdão senhor subchefe, <strong>de</strong> meretriz, que se ficasse<br />

a rir da Lina Despachada. Agora vocês resolvam... “<br />

Resolveu-se tudo. O subchefe da Policia estava cansado, <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> ver<br />

pela porta fora as senhoras meretrizes e os senhores caloteiros, estes pagaram a<br />

factura, receberam seus pertences, retiraram a queixa, a noite digeriu mais um<br />

pequeno drama sórdido, os homens meteram-se nos automóveis e voltaram<br />

para os lares <strong>de</strong> gente séria, as mulheres foram rua a baixo, ouviam-se as<br />

gargalhadas <strong>de</strong> uma gorda veterana <strong>de</strong> mil duelos - “pareces um palhaço!”-, as<br />

lágrimas tinham aberto sulcos na pintura <strong>de</strong> guerra da quase criança, magrinha,<br />

A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu nome.<br />

gaja...”<br />

“Queria dizer-te uma coisa: eu não sou...”<br />

“Não és o quê, filha?”<br />

“Não sou isso que tu disseste. Quer dizer, meretriz... “<br />

“Ai não? Ora essa! Então és o quê? A Baronesa da Perna Aberta? Olha esta<br />

Lina Despachada zangou-se. Chamou-lhe ingrata e canelas <strong>de</strong> chibo, carga<br />

<strong>de</strong> ossos, virgenzinha dos cabritos, o que encontrou <strong>de</strong> mais cruel e ofensivo.<br />

Estava quase a chorar <strong>de</strong> indignação ou <strong>de</strong> pena <strong>de</strong> si própria, não sabia bem,<br />

era uma coisa parecida com o que sentia quando os amantes a <strong>de</strong>ixavam, os<br />

melhores tinham partido enojados do cheiro da sarjeta, com vergonha <strong>de</strong><br />

ficarem, sem vergonha <strong>de</strong> a <strong>de</strong>ixarem só. Lina já não podia partir, tar<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mais, não havia tréguas nem refúgio para o sobe-<strong>de</strong>sce na Avenida, enterrada<br />

no seu <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> meretriz, como ensinara o senhor subchefe.<br />

“Gosto muito <strong>de</strong> ti”, disse A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!