Mrio-Zambujal-Cronica-Dos-Bons-Malandros - Agrupamento de ...
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VI<br />
SILVINO<br />
A singular precocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trolha por vocação, o fui justificado pânico da<br />
família, o padrinho andaluz, a crucificação do professor <strong>de</strong> Francês, glória e morte <strong>de</strong><br />
um Merce<strong>de</strong>s-Benz, duvidosas aventuras na América e entrada para a quadrilha, com<br />
dois votos contra e uma abstenção<br />
Ao que constava da memória da família, o primeiro roubo <strong>de</strong> Silvino foi a<br />
chupeta do irmão gémeo.<br />
Passou então por inocente e poucos progressos fez durante uns meses<br />
largos e chatos, recluso que o tinham no berço ou em colos sucessivos. Até que<br />
começou a endireitar-se nas pernas e a espetar o nariz na rua do mundo.<br />
Estava ele pelos dois anitos, sadios, graças a Deus, quando, numa tar<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Agosto, se apresentou em casa uma exaltada vizinha. Vinha pelo chapéu <strong>de</strong><br />
palha da sua cria, petiz dado a achaques e proibido <strong>de</strong> andar sem tampa à brasa<br />
do sol. Voltara o triste ao domicílio sem o chapéu <strong>de</strong> palha, percalço explicado<br />
por testemunhas oculares e categóricas: o Silvino tinha-lho palmado!<br />
Num alvoroço <strong>de</strong>sgostoso e excessivo correm os pais, a avó, duas tias e<br />
uma prima em combinação a caminho <strong>de</strong> Silvino-mas nada nesta mão, nada<br />
naquela, dá-se a volta à casa e <strong>de</strong> chapéu roubado nem sombra. Envergonhada<br />
da calúnia, <strong>de</strong>smoronou-se a queixosa em mil <strong>de</strong>sculpas rematadas com um<br />
beijo <strong>de</strong> contrição na rósea face <strong>de</strong> Silvino que sorria docemente, meneando a<br />
cabecita enfiada em dois chapéus <strong>de</strong> palha: o do outro menino por baixo do seu.<br />
Não se preten<strong>de</strong> aqui, nem tal seria possível, dar relato completo das<br />
tropelias <strong>de</strong> Silvino na sua irrequieta infância. Apenas alguns exemplos, tais<br />
como as malda<strong>de</strong>s ao irmãozinho gémeo, um paz <strong>de</strong> alma, criança mais dócil e<br />
bondosa jamais passara pelos gargalos parturientes da família, “um santo!, é<br />
um santo! “, outro termo não encontravam nem o havia mais ajustado. Mesmo<br />
assim, muito pa<strong>de</strong>ceu o santo em bastas sovas que lhe aviou a mãe, julgando-o,<br />
a ímpia, caído em pecado. Como se os pecados dos santos não fossem partidas