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I CO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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RELATÓRIO RESERVA<strong>CO</strong> 18 a 24/8/86<br />

Na Coppe, crítica à 'pressa' do plano <strong>de</strong> metas<br />

Um plano bem intencionado, <strong>de</strong>vido à<br />

priorida<strong>de</strong> que conce<strong>de</strong> àos investimen-<br />

tos na área social, porém precário e super-<br />

ficial. Uma verda<strong>de</strong>ira colcha <strong>de</strong> retalhos,<br />

em que foram costuradas <strong>de</strong> maneira<br />

apressada uma série <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>si-<br />

guais fornecidas pelos ministérios, que<br />

nfo dá possibilida<strong>de</strong> sequer <strong>de</strong> avaliar a<br />

coerência das metas globais com os pla-<br />

nos setoriais. Essa a avaliação que os pro-<br />

fessores Carlos Alberto Nunes Cosenza<br />

e_José Guilherme Cortes, da Coor<strong>de</strong>na-<br />

ção dos Programas <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />

Engenharia (Coppe), da Universida<strong>de</strong> Fe-<br />

<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), fazem<br />

do plano <strong>de</strong> metas (1986-1989).<br />

Cosenza observa que o documento da<br />

Nova República representa um enorme re-<br />

trocesso em relação ao plano trienal ela-<br />

borado, sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Celso Fur-<br />

tado, no governo João Goulart e ao plano<br />

<strong>de</strong>cenal preparado na gestão <strong>de</strong> Roberto<br />

Campos no Ministério do Planejamento.<br />

- O plano trienal representou um<br />

avanço extraordinário em matéria <strong>de</strong> me-<br />

todologia <strong>de</strong> planejamento e o <strong>de</strong>cenal<br />

exigiu a preparação <strong>de</strong> planos setoriais<br />

elaboradíssimos que <strong>de</strong>ram sustentação às<br />

metas globais. Além disso, o plano <strong>de</strong> me-<br />

tas está atrasadíssimo, pois muitas idéias,<br />

meramente anunciadas, já <strong>de</strong>veriam ter se<br />

transformado em projetos, especialmente<br />

no que diz respeito à política industrial.<br />

José Guilherme atribui a inconsistência<br />

do plano <strong>de</strong> metas à pressa com que foi<br />

elaborado e ao fato <strong>de</strong> que, nos últimos<br />

anos, com Delfim Netto à frente da Se-<br />

plan, a "máquina <strong>de</strong> planejamento foi se<br />

dissolvendo".<br />

Falsas hipóteses. José Guilherme consi-<br />

<strong>de</strong>ra, também, que o plano <strong>de</strong> metas parte<br />

<strong>de</strong> hipóteses falsas, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> irrealismo,<br />

que po<strong>de</strong>rão impossibilitar que sejam al-<br />

cançadas as metas estabelecidas. Ele con-<br />

testa especialmente a pressuposição da<br />

Seplan <strong>de</strong> que com um pequeno esforço<br />

adicional <strong>de</strong> poupança será possível fazer<br />

frente aos pesados investimentos previstos<br />

na área <strong>de</strong> infra-estrutura e no setor social.<br />

De acordo com o plano, o incremento da<br />

poupança teria que ser <strong>de</strong> 2% em 1987<br />

2,3%em 1988 e 2,5%em 1989.<br />

- A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento evo-<br />

luiria <strong>de</strong> 17,6% do PIB em 1986 para<br />

21,2% em 1989. Ora, dificilmente as me-<br />

tas propostas po<strong>de</strong>rffo ser atingidas com<br />

taxa <strong>de</strong> poupança inferior a 27% do PIB.<br />

Basta examinar as priorida<strong>de</strong>s estabeleci-<br />

das no plano. Elas envolvem os setores <strong>de</strong><br />

energia elétrica, transportes, telecomuni-<br />

cações, armazenagem etc, Sffo todos in-<br />

vestimentos pesadíssimos, <strong>de</strong> retomo len-<br />

to e com uma relaçffo capital-produto das<br />

mais elevadas, Além disso, os indispensá-<br />

veis e maciços investimentos previstos na<br />

área social nffo têm retorno em termos 1<br />

monetários e nao contribuirão, portanto,<br />

para reforçar mais à frente a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> poupança.<br />

Diante disso, José Guilherme não con-<br />

si<strong>de</strong>ra razoável a hipótese do plano <strong>de</strong> me-<br />

tas <strong>de</strong> que em 1986 serão necessárias 2,5<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capital para gerar uma unida-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> produto. Essa, diz ele, é a relação ca-<br />

pital-produto da década <strong>de</strong> 1950. quando<br />

os investimentos eram feitos em unida<strong>de</strong>s<br />

produtivas mais simples, mais baratas, que<br />

exigiam para sua implantação máquinas e<br />

equipamentos menos sofisticados do que<br />

agora.<br />

- Sendo realista, po<strong>de</strong>-se trabalhar<br />

com uma relação capital-produto <strong>de</strong> no<br />

mínimo três a partir <strong>de</strong>ste ano. Isso exigi-<br />

ria já em 1986 um esforço adicionai <strong>de</strong><br />

poupança <strong>de</strong> 3,4% do PIB, e não <strong>de</strong> l r ;.<br />

como prevê o plano <strong>de</strong> metas.<br />

Padrão asiático. Carlos Alberto Cosen-<br />

za concorda com esse racciocínio e observa<br />

que, para viabilizar o auimento da taxa <strong>de</strong><br />

poupança e a meta <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> l''Á<br />

ao ano estabelecida pela> plano <strong>de</strong> metas,<br />

será preciso estancar a ssangria representa-<br />

da pelo pagamento dos juuros da dívida ex-<br />

terna. Transferindo 5% ddo PIB para o ex-<br />

terior, o Brasil po<strong>de</strong>rá aaté mergulhar <strong>de</strong><br />

novo numa fase recessiva,1, diz ele.<br />

- Com a transferénciaa <strong>de</strong> 5%, o cresci-<br />

mento efetivo do PIB poD<strong>de</strong>rá ficar em no<br />

máximo 2% ao ano. Desccontando-se a <strong>de</strong>-<br />

preciação dos equipamemtos, po<strong>de</strong>remos<br />

não ter crescimento algum.' Isso seria um<br />

<strong>de</strong>sastre, pois chegam anualmente ao mer-<br />

cado <strong>de</strong> trabalho 2,6 milhões <strong>de</strong> pessoas<br />

e não 1,4 milhão, como estima o plano <strong>de</strong><br />

metas. ■<br />

Cosenza observa, também, que as me-<br />

tas estabelecidas pelo plano para a área<br />

agrícola, por exemplo, po<strong>de</strong>m ser seria-<br />

mente comprometidas pelos padrões sala-<br />

riais asiáticos, que predominam na econo-<br />

mia brasileira. O governo fala em aumen-<br />

tar rapidamente a produção <strong>de</strong> alimentos.<br />

Mas, como o mercado brasileiro é muito<br />

restrito, há em sua opinião o sério risco<br />

<strong>de</strong> assistirmos nos próximos anos ao triste<br />

espetáculo <strong>de</strong> alimentos jogados fora por<br />

falta <strong>de</strong> mercado.<br />

O que preocupa Cosenza é que a polí-<br />

tica salarial vigente nío levará ao aumento<br />

do po<strong>de</strong>r aquisitivo da gran<strong>de</strong> massa <strong>de</strong><br />

trabalhadores, mantendo portanto os pa-<br />

drões asiáticos predominantes.<br />

- O mercado no Brasil é representado<br />

na verda<strong>de</strong> por apenas 10% da população,<br />

O salário-mínimo é <strong>de</strong>primente e a polí-<br />

tica <strong>de</strong> reajustar os salários pela média<br />

provocará um violenta perda <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

aquisitivo. A média virou o pico e com u<br />

evoluçffo da inflaçffo a próxima média sa-<br />

larial será Inferior à atual. Assim, com o<br />

passar do tempo, <strong>de</strong> média em média os<br />

salários chegarío ao fundo do poço.<br />

Á<br />

/

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