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I CO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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internacional<br />

exigência <strong>de</strong> maior agressivida<strong>de</strong> na<br />

política externa são elementos<br />

indispensáveis para explicar por<br />

que Carter se voltou para a direita<br />

<strong>de</strong>pois do fiasco no Irã. Um dos si-<br />

nais mais visíveis <strong>de</strong>ste movimento<br />

à direita veio quando Cyrus Vance<br />

renunciou ao posto <strong>de</strong> secretário <strong>de</strong><br />

Estado, <strong>de</strong>ixando Zbigniew Brze-<br />

zinski como o homem forte em ter-<br />

mos <strong>de</strong> política externa.<br />

Menos visível, mas possivelmente<br />

mais importante, foi a mudança na<br />

política da América Central. Carter<br />

nunca apoiou os sandinistas, mas<br />

quando eles subiram ao po<strong>de</strong>r ele<br />

buscou meios para uma coexistên-<br />

cia pacífica. Além disso, ao mesmo<br />

tempo que ele nunca apoiou a revo-<br />

lução, ele se opôs a Somoza. Em<br />

contraste, quando a extrema direita<br />

<strong>de</strong>pôs do po<strong>de</strong>r os coronéis mais<br />

progressistas <strong>de</strong> El Salvador, no<br />

final <strong>de</strong> 1979, Carter não fez nada.<br />

Quando começou a escalada das<br />

atrocida<strong>de</strong>s, a política <strong>de</strong> direitos<br />

humanos foi atirada pela janela,<br />

vítima da exigência <strong>de</strong> uma política<br />

mais agressiva.<br />

Carter representou uma tentativa<br />

para chegar a um acordo com o<br />

mundo mo<strong>de</strong>rno — especialmente<br />

com o Terceiro Mundo e a União<br />

Soviética — <strong>de</strong> maneira mais escla-<br />

recida. Uma <strong>de</strong> suas maiores falhas<br />

foi a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicar ao<br />

público americano o que significava<br />

esse esforço. Os meios <strong>de</strong> comuni-<br />

cação e o público interpretaram a<br />

renúncia a uma política externa<br />

mais agressiva como sendo fraque-<br />

za. Reagan foi eficiente na explora-<br />

ção <strong>de</strong>ssa imagem e em contrapor<br />

uma imagem contrária, <strong>de</strong> uma<br />

América forte que não se <strong>de</strong>ixará<br />

"encurralar" em outra, parte do<br />

mundo.<br />

A imagem evocada por Reagan<br />

foi parcialmente apócrifa. Como<br />

mostraram as "<strong>de</strong>rrotas" na Co-'<br />

réia, em Cuba e na China, os Esta-<br />

dos Unidos nunca foram capazes <strong>de</strong><br />

dominar o mundo completamente,<br />

como Reagan sugeria. Todavia, a<br />

imagem <strong>de</strong> uma América forte, com<br />

renovada força militar, foi eficien-<br />

te como suporte vitorioso para a<br />

direita.<br />

A direita também foi capaz<br />

<strong>de</strong> capitalizar eficientemente símbo-<br />

los e mitos, ao criticar a política<br />

interna <strong>de</strong> Carter e ao propor alter-<br />

nativas. Reagan <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou um<br />

ataque popular ás instituições da<br />

Previdência Social, retratando-as<br />

como anátema da tradição america-<br />

na do trabalho árduo. O discurso<br />

antiestatal acompanhado da real<br />

redução <strong>de</strong> impostos para a classe<br />

média e da prosperida<strong>de</strong> se mostra-<br />

ram igualmente populares. Apelos<br />

ao patriotismo, moralismo e valo-<br />

res tradicionais da família também<br />

encontraram um forte eco na socie-<br />

da<strong>de</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que Carter repre-<br />

sentou uma tentativa (freqüente-<br />

mente malograda) <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />

prospectivamente aos problemas<br />

dos anos 70, o discurso e a política<br />

<strong>de</strong> Reagan representaram exata-<br />

mente o contrário: uma volta aos<br />

valores e á política tradicionais. É<br />

irrelevante que o passado seja uma<br />

quimera, o que importa é o suporte<br />

significativo para estes valores no<br />

momento atual. , .<br />

O perigo que Reagan representa<br />

para o mundo tem sido claro para<br />

muitos, mas os perigos que a nova<br />

direita representarem termos das<br />

instituições <strong>de</strong>mocráticas nos Esta-<br />

dos Unidos têm sido geralmente su-<br />

bestimados. Enquanto sustenta o<br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> que a intervenção<br />

estatal é o mal que ataca a socieda-<br />

<strong>de</strong> americana, a nova direita pro-<br />

moveu a expansão da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

o Estado atuar fora da esfera dos<br />

políticos <strong>de</strong>mocráticos e até <strong>de</strong><br />

regular a vida individual. A expan-<br />

são dos po<strong>de</strong>res da CIA e do FBI<br />

são exemplos claros. Neste sentido<br />

houve uma tentativa <strong>de</strong> reformar a<br />

natureza da política americana <strong>de</strong><br />

maneira a ir além das práticas repu-<br />

blicanas convencionais.<br />

Todavia, a distância entre a<br />

administração Reagan, que inclui<br />

muitas características individuais<br />

da nova direita e os tradicionais<br />

lí<strong>de</strong>res republicanos, explica o <strong>de</strong>s-<br />

dém da primeira com relação aos<br />

•últimos.<br />

A administração Reagan tem<br />

incomodado indivíduos que se têm<br />

oposto à sua política. Em 1982 a<br />

Agência <strong>de</strong> Informações dos Esta-<br />

dos Unidos (CIA) colocou na lista<br />

negra inúmeras personalida<strong>de</strong>s emi-<br />

nentes da oposição, incluindo o<br />

senador Gary Hart e, por mais sur-<br />

preen<strong>de</strong>nte que possa parecer, um<br />

dos diretores anteriores da própria<br />

CIA. A alfân<strong>de</strong>ga tem molestado<br />

pessoas que voltam da Nicarágua,<br />

conhecidas por sua oposição à<br />

intervenção na América Central.<br />

O "Serviço <strong>de</strong> Renda Interna" (im-<br />

postos fe<strong>de</strong>rais) envolveu em intri-<br />

gas <strong>de</strong>sonrosas o nome <strong>de</strong> institui-<br />

ções progressistas (como o Institu-<br />

to <strong>de</strong> Estudos Políticos), publica-<br />

ções (Mother Jones, por exemplo) e<br />

indivíduos. A Fundação Inter-<br />

Americana, apoiada financeira-<br />

mente pelo Congresso, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> al-<br />

guns excelentes trabalhos <strong>de</strong> apoio<br />

aos movimentos <strong>de</strong> base da Améri-<br />

ca Latina, foi submetida, pela pri-<br />

meira vez em sua história, a um cri-<br />

tério político. O novo diretor, um<br />

velho amigo <strong>de</strong> Reagan, da Califór-<br />

nia, não sabe nada sobre a América<br />

Latina e começou a tomar provi-<br />

dências para o <strong>de</strong>smantelamento do<br />

caráter progressista da organiza-<br />

ção. Pela primeira vez, os aponta-<br />

mentos do Departamento <strong>de</strong> Estado<br />

se viram submetidos a um critério<br />

i<strong>de</strong>ológico e não <strong>de</strong> méritos. O pior<br />

<strong>de</strong> tudo talvez tenha sido o uso, sem<br />

prece<strong>de</strong>nte (mesmo se comparado a<br />

Nixon'). <strong>de</strong> mentiras ao lidar com o<br />

público americano, especialmen-<br />

te no que diz respeito à América<br />

Central.<br />

O que é notável é a indiferença,<br />

ou pior, o apoio que estas práticas<br />

encontram no público americano. A<br />

intolerância à diversida<strong>de</strong>, o nacio-<br />

nalismo e o militarismo, o provin-<br />

cialismo e a hostilida<strong>de</strong> a idéias<br />

diferentes encontram-se por toda<br />

parte e se chocam quando alguém<br />

consi<strong>de</strong>ra a criativida<strong>de</strong> produzida<br />

na segunda meta<strong>de</strong> dos anos 60 e<br />

parte dos anos 70. Foi a combina-<br />

ção do autoritarismo social e esta-<br />

tal que sugeriu a Bertrand Gross o<br />

título exagerado porém não menos<br />

sugestivo <strong>de</strong> seu livro: Fascismo<br />

Amávell<br />

Também não foi <strong>de</strong>tectada por<br />

muitos a erosão que sofreram algu-<br />

mas conquistas sociais. Des<strong>de</strong> um<br />

programa fe<strong>de</strong>ral conhecido como<br />

"Ação Afirmativa", durante as<br />

décadas <strong>de</strong> 60 e 70, corporações e<br />

universida<strong>de</strong>s foram encorajadas a<br />

contratar mulheres e membros das<br />

minorias. Hoje, esta tendência se<br />

reverteu, novamente sob o estan-<br />

darte <strong>de</strong> se evitar a intervenção do<br />

Estado. À Corte Suprema reverteu<br />

algumas das <strong>de</strong>cisões mais liberais<br />

dos anos anteriores. Des<strong>de</strong> que é<br />

praticamente certo que Reagan no-<br />

meará novos juizes para a Corte Su-<br />

prema, é provável que no futuro a<br />

Corte se curve numa direção ainda<br />

mais conservadora. Assim como as<br />

conquistas legais dos anos 60 e 70<br />

foram importantes para o cresci-<br />

mento do espaço para uma socie-<br />

da<strong>de</strong> mais progressista, assim as<br />

reversões legais dos anos 80 serão

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