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de auto domínio e de auto liberação, de criação do espaço da sua autonomia e de busca<br />
permanente do seu prazer, do seu prazer sábio, sereno.<br />
Onde é território humano, é só humano e ali só depende de nós a conquista do bem, da alegria, do<br />
prazer e da felicidade.<br />
A Culpa dos Reis<br />
Antônio Cândido<br />
Eu creio que em uma série sobre a Ética é interessante nós termos alguns exemplos das ações<br />
históricas concretas. E talvez também de grandes obras literárias que descrevem num sentido<br />
simbólico essas ações históricas.<br />
Ricardo II<br />
Eu acho que caberia muito no caso uma peça como Ricardo II, de Shakespeare. Porque temos<br />
nessa peça um rei que manda e é obedecido e um rei que e depois é assassinado. Nós temos,<br />
portanto, problemas éticos muito graves que são problemas de fidelidade, de obediência, de<br />
legitimidade, de amizade, de transgressão, tudo isso entra no Ricardo II.<br />
O importante aí, mais do que o enredo, o importante são os princípios que estão em jogo.<br />
Inicialmente, o princípio que chama mais a nossa atenção é o princípio da legitimidade. Porque é<br />
a legitimidade que vai assegurar um sistema de relacionamento na sociedade. O que é bem, o que<br />
é mal, o que é certo e o que é errado se organiza em torno da legitimidade, porque se organiza em<br />
torno da obediência, ou da desobediência ao rei. É uma peça em que nós temos o conflito da<br />
obediência com a desobediência, em outras palavras, o mando com a transgressão. Isso vai<br />
assumir nessa peça, Shakespeare vai modular isso de uma maneira muito ampla. E literariamente,<br />
a beleza é muito acentuada porque ela se presta a uma série de metáforas muito elucidativas.<br />
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